O primeiro cinema - 1956
O cinema de Bertioga chegou em 1956, por iniciativa de Coriolano Mazzoni. Era o “Cine Umuarama”. Segundo Zunaria Lisboa Sabino, o cinema funcionou inicialmente no Hotel Umuarama e depois passou a funcionar em um imóvel na Rua Pero Góes, ao lado de onde residiam Coriolano e sua esposa, Dona Luiza. Mas durou um curto período. De acordo com Norma Mazzoni, foi fechado em 1962, em razão do preço dos impostos e do alto custo para projeção dos filmes.
Elizabete Bittencourt Abdalla contou que ela ia com a tia, Dulce Bittencourt Abdalla, no cinema do “Seo Mazzoni”. Tinha pipoca para comprar, mas nessa época ainda não tinha refrigerante, só refresco de fruta, geralmente limonada. O cinema era uma casa térrea de alvenaria, grande, que ocupava todo o terreno. Era tudo muito simples. As pessoas ficavam sentadas em cadeiras de madeira. Estava sempre lotado. Nessa época a energia elétrica ainda não tinha chegado em Bertioga. Não existia iluminação pública à noite e por isso as sessões eram realizadas no período da tarde. O cinema funcionava com a energia elétrica produzida por um gerador movido à gasolina.
Diversos filmes internacionais e nacionais fizeram sucesso na época em que funcionou o Cine Umuarama: Cantando na Chuva, Ben Hur, Crepúsculo do Deuses, Os Dez Mandamentos, foram grandes clássicos produzidos na época, mas o cinema nacional também produzia grandes títulos, tendo como estrelas Mazzaropi, Tônia Carrero, Grande Otelo, Oscarito, Anselmo Duarte, Dercy Gonçalves, Eliana Macedo, Vera Nunes, Lima Duarte, Sõnia Mamede.
Jaime Pina Nascimento é nomeado Subprefeito - 1957
Nomeado em 24 de abril de 1957, Jaime Pina Nascimento permaneceu no cargo de Subprefeito de Bertioga até 1959. Essa nomeação foi realizada pelo Prefeito de Santos, Silvio Fernandes Lopes, dez dias após ter tomado posse no seu cargo.
Plebiscito - 1958
Em 1951 falava-se na realização de um plebiscito, para anexar Bertioga ou parte dela à Mogi das Cruzes. Políticos mogianos queriam uma faixa no litoral. Havia a ideia de construir uma rodovia ligando Mogi das Cruzes ao litoral. Empreendedores imobiliários pressionavam para esse fim, nem sempre pautados por interesses republicanos.
Os santistas, principalmente os políticos, desaprovavam essa iniciativa. E isso era muito natural e compreensível. O resultado da emancipação seria a diminuição do território santista e, consequentemente, a arrecadação de Bertioga deixaria de ser destinada à Santos. Além disso, o eleitorado de Bertioga não votaria mais em Santos, reduzindo a área de influência de alguns políticos. Os Vereadores diziam que essa tentativa de emancipar o Distrito era fruto da cobiça e da vaidade de alguns latifundiários e comerciantes. A população reclamava da falta de interesse de Santos na promoção de investimentos em Bertioga. Na década de 1950 destacava-se a falta de abastecimento de água potável. O serviço foi instalado com a ajuda da Colônia de Férias do SESC, e através de contribuições financeiras de moradores locais, como Corionalo Mazzoni e Hugo Marçal de Oliveira Caldas.
A Prefeitura de Santos cobrava a taxa de conservação do calçamento, sem que no Distrito houvesse um metro sequer desse melhoramento. O imposto predial em Bertioga era maior do que algumas ruas nobres de Santos.
O procedimento jurídico-legislativo de emancipação de Bertioga teve início no dia 22 de abril de 1958, quando foi protocolada uma “representação” na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo pedindo que fossem dados os passos necessários para que o Distrito de Bertioga fosse elevado à categoria de Município. Para tanto, a representação foi instruída com os documentos exigidos pela Lei Orgânica dos Municípios (Lei Estadual nº 1, de 1947).
Foi assinada por diversos moradores e assim qualificados como autores do pedido. Dentre vários nomes, podemos identificar Ary Fonseca Cruz, Adherbal Alves, Roberto Bichir, Miguel Macedo, Ephipanio Batista, Renato Faustino de Oliveira, Henrique Costábile, Coriolano Mazzoni, Lionésia Piques, Odair Xavier, Alberto Hugo de Oliveira Caldas, Vitorina Luiza Ferreira, Raphael Arcanjo do Nascimento, Walter Sabino, Waldemar Bittencourt Abdalla, Maria Bittencourt Abdalla e Zoraide Bittencourt Abdalla. Posteriormente, alguns moradores apresentaram petições no processo voltando atrás no pedido inicial de emancipação.
A Prefeitura de Santos, de modo velado, ameaçou com demissão os servidores públicos que trabalhavam em Bertioga caso se manifestassem favoráveis ao desmembramento.
Capa do processo arquivado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, por onde tramitou o processo de emancipação político-administrativa de Bertioga e com a realização do plebiscito em 1958.
Em uma conferência realizada em 26 de outubro de 1956, na Câmara Municipal de Santos, o historiador Francisco Martins dos Santos se declarou contrário ao movimento separatista, apresentando amplos argumentos histórico-culturais que ligavam Santos ao Distrito. A transcrição dessa conferência foi juntada ao processo de emancipação pelo Presidente da Câmara Municipal de Santos, Vereador Remo Petrarchi. Em sessão realizada no dia 24 de abril de 1958 a Câmara Municipal de Santos, por unanimidade, tinha aprovado que fosse solicitada a Assembleia Legislativa que legisle no sentido de impedir o desmembramento de Municípios que tenham surgido no primeiro século do descobrimento. O Vereador Vicente Molinari acusou o Deputado Federal Brasílio Machado Neto e o Deputado Estadual Luiz Roberto de Carvalho Vidigal de trabalharem pelo desmembramento de Santos, envolvidos na época em um escândalo de repasses de recursos federais ao SESC. Embora todos os Vereadores santistas fossem contra a emancipação, Vicente Molinari e José Gomes bateram-boca. Vicente Molinari foi acusado de não conhecer adequadamente os problemas do Distrito, embora tivesse recebido expressiva votação em Bertioga. Outros Vereadores questionaram as condições do serviço de transporte fluvial prestado pela “Santense”, o preço e a precariedade das lanchas e atracadouros.
A Prefeitura de Santos também apresentou petição contra o pedido de emancipação de Bertioga. Assim como: o Sindicato dos Operários nos Serviços Portuários de Santos, o Centro de Expansão Cultural de Santos, o Centro de Taquígrafos de Santos, a Associação dos Servidores Municipais de Santos, a Associação Comercial de Santos, a Sociedade Amigos da Cidade de Santos, o Sindicato dos Corretores de Navios de Santos e o Instituto Histórico e Geográfico de Santos.
Mesmo assim, a “Comissão de Divisão Administrativa e Judiciária” da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo proferiu parecer favorável a emancipação, pois o pedido inicial preencheu os requisitos legais. Esse parecer resultou na aprovação de uma resolução com a finalidade de autorizar o plebiscito.
A Resolução nº 252, de 14 de novembro de 1958, da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo determinou a realização de plebiscito para consultar a população de Bertioga se aceitava elevar o Distrito à condição de Município.
Documento original com a Resolução nº 252, autorizando a realização do plebiscito.
Publicação da Resolução nº 252, no Diário Oficial do Estado do dia 15 de novembro de 1958.
Segundo Fernando Martins Lichti, em “Poliantéia de Bertioga”, destacaram-se como idealizadores do movimento emancipacionista Humberto da Silva Piques, Nevio Marçal de Oliveira Caldas, Epiphânio Batista (Faninho), Henrique Costábile, Aldo Ennos de Moraes e Valter Perina. Participou ativamente desse movimento Laureano Dias.
Assim, em um domingo, dia 07 de dezembro de 1958, foi realizado o primeiro plebiscito em que se reivindicava a independência político-administrativa de Bertioga do Município de Santos.
Em Bertioga, dos 276 eleitores aptos a votar, compareceram 219, havendo uma abstenção de 2%. O plebiscito teve início às 08:00 da manhã, e a votação ocorreu no Grupo Escolar Vicente de Carvalho (a escola localizada na Praia, onde hoje é a Casa da Cultura Norma dos Santos Mazzoni). Era apenas esta escola, com uma seção e uma urna. Os eleitores fizeram uma fila, de modo ordenado, para preencher a lista que se encontrava na mesa presidida por Belmiro Dancini, auxiliado por Antonio Diob e Alaor Santana. Após a assinatura, o eleitor dirigia-se a cabina de votação, onde escolhia a cédula do voto “sim” ou a cédula do voto “não”, depositando, em seguida, a cédula lacrada na urna. Em todos os cantos da cidade o assunto era comentado. O plebiscito transcorreu sem nenhum problema. O pleito foi acompanhado pelo Delegado Helio Pantaleão, do DOPS e pelo juiz das 118ª e 119ª Zonas Eleitorais, Leoncio Cavalheiro Neto. A votação encerrou-se às 17:00. A apuração foi efetuada em Santos, na 118º Zona Eleitoral. A urna foi escoltada até Santos por policiais da Força Pública. A emancipação foi rejeitada. Foram 163 votos pelo “não” e apenas 56 votos pelo “sim”.
Ata de apuração do plebiscito.
Coriolano Mazzoni é nomeado Subprefeito - 1960
De 1960 até 1964 foi Subprefeito de Bertioga Coriolano Mazzoni, como reconhecimento ao seu brilhante trabalho como empresário. Participou ativamente das demandas pela instalação da energia elétrica em Bertioga. Foi nomeado na gestão do Prefeito Sílvio Fernandes Lopes.
Coriolano Mazzoni, subprefeito do Distrito de Bertioga.
No dia 11 de dezembro de 1963 se reuniu pela primeira vez em Bertioga o Prefeito de Santos e parte do seu secretariado com o Subprefeito de Bertioga. Tratava-se de um momento histórico, porque nunca um grupo de trabalho da Prefeitura de Santos tinha se deslocado para Bertioga para se reunir, vistoriar obras e despachar providências.
Nesta mesma visita o Prefeito de Santos José Gomes assinou decreto dividindo Bertioga em três subprefeituras: Bertioga, Itatinga e Jurubatuba. Os “considerandos” do decreto mencionam que era uma orientação consagrada a descentralização administrativa, além de ser um desejo da população local.
Jânio Quadros - 1961
Jânio Quadros foi Vereador de São Paulo, Prefeito de São Paulo, Deputado Estadual por São Paulo, Governador do Estado de São Paulo e Presidente da República. Ocupou esses cargos entre 1947 e 1961. Neste período, frequentou por diversas vezes Bertioga, acompanhado do amigo José Ermírio de Moraes, empresário fundador do Grupo Votorantim.
João Sabino Filho lembrou em entrevistas à Reuben Nagib Zeidan que Jânio Quadros quando chegava na “venda” gostava de encostar no balcão do bar e tomar uma pinga, antes de seguir para o Indaiá, na casa do empresário José Ermírio de Moraes, transportado no caminhão de João Sabino Abdalla. Não existia estrada, e eles chegavam de barco. Mesmo após a abertura da estrada Guarujá-Bertioga, por iniciativa do próprio José Ermírio de Moraes, era preferível vir de barco, pois a estrada tinha péssimas condições quando chovia, e nem asfaltada estava. João Sabino Abdalla possuía o único veículo de transporte da cidade, e José Ermírio, a família e os muitos amigos dele iam para o Indaiá no caminhão, conduzido pelo próprio João Sabino Abdalla ou por João Sabino Filho. Porém, quando se tornou Presidente, vinha de helicóptero.
Foi eleito Presidente em 3 de outubro de 1960, para o mandato de 1961 a 1965, com 5,6 milhões de votos. Logo após as eleições, Jânio Quadros veio para Bertioga, para ficar hospedado na casa de José Ermírio de Moraes. Ali permaneceu por vários dias, sem dar qualquer entrevista.
No dia 7 de outubro de 1960, de Bertioga, Jânio Quadros enviou uma mensagem escrita ao povo brasileiro, através da Rádio Nacional (Organização Victor Costa):
“Por intermédio da Organização Victor Costa minha saudação e meus agradecimentos ao povo brasileiro a quem espero servir com lealdade e firmeza e devotamento a bem do nosso progresso e da felicidade da nossa gente. Aos trabalhadores, meu fraternal abraço.”
Jânio Quadros
Durante o período em que se refugiou em Bertioga, Jânio Quadros estava acompanhado do seu aliado, o Governador do Estado de São Paulo, Carvalho Pinto, que continuava despachando de Bertioga as ações governamentais. Em 10 de outubro de 1960 recebeu o Secretário de Estado de Viação, Brigadeiro Faria Lima, onde um dos principais temas abordados foi a inauguração do aeroporto de Viracopos, em Campinas.
O Presidente Jânio Quadros e o Governador Carvalho Pinto
Somente em 12 de outubro de 1960 que, às 10:30 da manhã, Jânio Quadros recebeu Edvaldo Dantas Ferreira e Antonio Pirozzelli, fotógrafos da Folha de São Paulo, onde permitiu que fizessem os primeiros registros após sua eleição ao cargo de Presidente da República.
Jânio Quadros, fotografado na casa de José Ermírio de Moraes, no Indaiá, em Bertioga, no dia 12 de outubro de 1960 – Foto exclusiva da Folha de São Paulo
No dia 12 de outubro de 1960, por volta das 21:00 horas, o Governador Carvalho Pinto deixa o retiro onde estava por oito dias, acompanhando Jânio Quadros, e retorna de carro, pela balsa, para São Paulo, com um dos principais apoiadores desse grupo político, o empresário e fazendeiro Roberto Selmi Dei. Na saída, disse Carvalho Pinto que “o Sr. Jânio Quadros vai governar com toda a tranquilidade, estou seguro, a vitória foi muito expressiva”.
Momento em que o carro com o Governador Carvalho Pinto deixa a casa de José Ermírio de Moraes.
Mesmo após sua posse no cargo de Presidente, em 31 de janeiro de 1961, Jânio Quadros continuou visitando Bertioga de modo discreto, sempre ficando na casa de José Ermírio de Moraes, com ordens aos seguranças para manter longe os jornalistas e fotógrafos. O sítio do Indaiá, em Bertioga, era seu lugar de repouso.
Sorridente, o Presidente Jânio Quadros desembarcou em 10 de fevereiro de 1961 no aeroporto militar de Cumbica, evitando descer em Congonhas, onde era aguardado por diversas pessoas. Ali ficou por pouco tempo, para evitar a curiosidade popular. Logo embarcou em um helicóptero da Força Aérea Brasileira em direção a Bertioga, na casa de José Ermírio de Moraes.
Jânio Quadros foi instado ao cargo de Presidente da República graças ao seu grande poder de convencimento e articulação, com a proposta de uma revolução política, com manutenção do Estado Democrático de Direito. Era um populista, com propostas que agradavam ao povo e a elite brasileira. A sua gestão foi cercada por polêmicas, como a condecoração de Ernesto Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul e a tentativa de ocupação da Guiana Francesa. Por decreto, proibiu o uso do biquini em concursos de beleza.
Jânio Quadros – 1961
O governo de Jânio Quadros durou apenas seis meses, pois, sem apoio dos militares e do Congresso, pediu no dia 25 de agosto de 1961 sua renúncia, para espanto de toda a população, com graves consequências para a história do Brasil.
Linhas de ônibus para São Paulo - 1961
Segundo lembranças de Zunaria Lisboa Sabino, desde 1961, sua melhor amiga, Nazaré Penha Moreira, vendia passagens da Viação Cometa, com destino à São Paulo, em uma “portinha” (agência), ao lado da Venda de Miguel Bichir, na Avenida Vicente de Carvalho. Também trabalhava nessa agência Neide Bichir. Esses ônibus não chegavam em Bertioga. A passagem era comprada na agência e o passageiro atravessava a balsa para embarcar no ônibus do outro lado do Canal, em Guarujá.
Ônibus da Viação Cometa em São Paulo – década de 1960.
A partir de 1964 esse serviço passou a ser executado pela Viação Coringa, que alguns anos depois foi vendida para a Viação Ultra.
Anúncio da Viação Coringa com destino à Bertioga – 1967
Somente em 1973 que a Viação Ultra assume esse serviço. Entretanto, ainda era preciso atravessar a balsa e pegar o ônibus do outro lado do Canal, em Guarujá, pois como não existia estrada, os ônibus não conseguiam chegar em Bertioga. O embarque nos ônibus da Viação Ultra, na linha São Paulo-Bertioga, com ponto de embarque em Bertioga, somente passou a existir em 1985, quando inaugurada a Rodovia Rio Santos.
Filme “A Ilha” - 1962
O filme “A Ilha”, gravado em preto e branco em 1962, teve diversas cenas filmadas em Bertioga. Foi produzido pela Kamera Filmes e distribuído pela Cinedistri. O filme é um drama, escrito e dirigido por Walter Hugo Khouri e lançado em 1963 nos cinemas. Os atores, direção e o filme receberam várias premiações no Brasil. No Festival de Cinema de Curitiba realizado em 1964 foi eleito o melhor filme do ano e Luigi Picchi o melhor ator. O músico Rogério Duprat recebeu premiações em diversos festivas pela composição do filme.
O elenco principal contava com Eva Wilma (Helena), Luigi Picchi (Conrado), Elizabeth Hartman (Clara), José Mauro de Vasconcelos (Simão), Ruy Afonso (Neco), Mario Benvenutti (Marcos), Lyris Castellani (Suzana), Laura Verney (Sônia), Mauricio Nabuco (Hugo) e Francisco Negrão, que interpretou César, e com esse personagem recebeu vários prêmios: o Prêmio Saci, em 1963 como melhor ator, o Prêmio Governador do Estado de São Paulo, em 1963, como ator secundário e o Prémio Cidade de São Paulo, em 1963, também como ator secundário.
A sinopse do filme descrevia um milionário que convidava um grupo de amigos para um fim de semana numa ilha onde, dizia uma lenda, havia um tesouro. Uma tempestade leva o barco embora e aquelas pessoas ficam isoladas do mundo. Sem água e comida, os amigos logo começam a mostrar suas verdadeiras personalidades, com mentiras e traições.
Segundo as lembranças de Dulce, filha de João Sabino Abdalla, Eva Wilma ficou algumas vezes na “venda” com os dois filhos, bem pequenos, Vivien e John Herbert, esperando a barquinha chegar para atravessar ao outro lado do Canal de Bertioga, com toda a equipe de filmagem, pois as gravações eram realizadas na Ermida de Santo Antônio do Guaíbe. Além de talentosa, era muito bonita e simpática, e João Sabino Abdalla a chamava de “mocinha”. Eva Wilma fica toda feliz. O elenco e a produção também compraram diversos “tamancos” na “venda”, que naquela época estavam na moda.
Em uma publicação de 2008 para a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, a premiada e respeitada atriz Elizabeth Hartmann revelou detalhes das gravações do filme “A Ilha”:
Numa das idas até o escritório do Abílio para ver como estavam as coisas, ele disse a um homem que estava no seu escritório quando eu entrei: Está aí a atriz para o seu filme. Era o Walter Hugo Khouri, que também estava procurando uma atriz para o seu filme A Ilha. O Khouri, me olhou e disse que eu era um tipo interessante. Ele gostava de tipos nórdicos. Perguntou minha experiência e me pediu umas fotos. Quando me encontrei com ele para entregar as fotos, já me contratou para o filme. Logo depois, houve uma leitura da peça do Abílio na casa do Felipe Carone. O Antunes Filho me chamou num canto e disse que eu não poderia fazer o papel principal, porque eu não era conhecida ainda em São Paulo e que ele precisava de alguém com nome. Que eu ficaria com um papel menor, mas também muito importante. E foi me mostrar o papel. Folheou as páginas da peça e não conseguiu encontrar um diálogo da personagem. Ele ficou todo desconcertado, mas eu disse que ele não se preocupasse, que eu ia fazer o filme do Walter Hugo Khouri. Sinto pena até hoje de não ter trabalhado com o Antunes, pois é um grande diretor. Fui fazer o filme e a peça não saiu, porque, num dos ensaios, na saída, alguns caras estavam esperando os atores e esses apanharam. Ninguém ficou sabendo por quê… Filmamos A Ilha em Bertioga, no litoral do Estado de São Paulo. Fiquei dois meses lá, pois filmar demorava bastante naquela época. Era um ótimo elenco: Eva Wilma, que era a protagonista, apesar de todos os personagens serem interessantes e importantes; Laura Verney, uma atriz italiana que depois voltou para a Itália; Lyris Castellani, que deixou de ser atriz; os homens já morreram todos: Mário Benvenutti, um amor de pessoa; Luigi Picchi, Rui Affonso, José Mauro de Vasconcelos, Francisco Negrão, Maurício Nabuco e o próprio Khouri, que também já faleceu. Depois dos dois meses filmando em Bertioga, filmamos a parte de estúdio na antiga Companhia Vera Cruz, ainda por um mês, e também dublamos o filme, pois o som não era direto. Essa minha primeira experiência com o cinema foi boa e importante. O elenco se dava bem. O Walter Hugo Khouri era uma pessoa estranha. Ele era um diretor extremamente competente, de muito bom gosto, que cuidava muito bem das mulheres, mas tinha o defeito de não criar um clima de harmonia nas filmagens, chegava até a instigar um ator contra o outro. A sorte foi que a gente superou tudo isso e convivemos bem. Em A Ilha, o assistente de direção do Khouri era um jovenzinho de 18 anos, Alfredo Sternheim, que mais tarde também se tornou diretor, com quem eu trabalhei várias vezes e para sempre somos amigos. Um fato curioso aconteceu nas filmagens. Houve uma cena filmada na Praia do Perequê num lugar bem íngreme entre pedras. A nossa câmera era uma Mitchel. O elenco podia se esborrachar nas pedras, mas a câmera não podia ter nenhum arranhão. Descem as atrizes, descem os atores e desce a câmera, a grande vedete. O responsável pela câmera era o senhor Alfonso, um espanhol ainda dos Estúdios Vera Cruz. O cameraman e iluminador era o George Pfister, por sinal, excelente iluminador. Ensaiamos a cena, todo material a postos e… Silêncio, Ação. Fizemos tudo direitinho, o diretor deu ok e lá fomos subir aquilo tudo de novo. Era ator rolando nas pedras, mas a câmera superprotegida, transportada como uma noiva no dia das núpcias. Quando chegamos lá em cima, a equipe percebeu que se esqueceu de colocar o filme na câmera. Resultado, no dia seguinte toda essa operação para filmarmos a cena novamente. Eu dividia o quarto com a Vivinha, que, na época, era casada com o John Herbert e tinha dois filhos pequenos, a Lyris também era casada e eu, na minha lua-de-mel. Tenho a impressão até hoje que minha lua-de-mel incomodou muito o diretor, porque o Apollo ia sempre a Bertioga. Nós estávamos hospedados na colônia do SESC, mas quando meu marido vinha, a gente se hospedava num hotel para não invadir o espaço das filmagens. E o Khouri se incomodava com isso. O Apollo, que também não era uma pessoa contemporizadora, criou um clima de mal-estar com o Khouri. Por pouco, o Khouri não me tirou do filme. Só não me tirou por causa do Luigi Picchi que virou e disse: Khouri, você ontem disse que a Elisabeth seria a nossa Greta Garbo e hoje quer dispensá-la do filme? Lógico que esse Greta Garbo era exagero. A partir disso, o Khouri refletiu e não dispensou. Contudo, esse clima de mal-estar permaneceu para sempre. Nas ocasiões em que encontrei o Khouri ao longo da vida, ora ele fingia que não me via, ora vinha todo carinhoso me beijar e, numa das vezes, disse que nunca mais me convidou para trabalhar com ele porque meu marido era muito chato. O filme foi lançado em 1962. O Khouri sempre teve um ritmo particular nos seus filmes, gostava de algo mais lento, troca de olhares. Era essa a interpretação que ele gostava. Ele também era o roteirista do filme. Por causa desse ritmo mais lento e da interpretação com intenções subjacentes, o filme foi criticado e, conseqüentemente, não teve muito público. Posteriormente, quando o filme foi relançado, e até hoje quando passa no Canal Brasil, na TV Cultura, é considerado belo e tem uma aura de cult, faz sucesso. Eu considero o filme muito bonito e com um clima todo especial. Volto a dizer que, para mim, apesar do incidente relacionado com o meu marido e o Khouri, esse primeiro trabalho no cinema, meu primeiro trabalho profissional em São Paulo, teve um resultado muito satisfatório. Fui indicada ao prêmio Saci como atriz coadjuvante e me senti à vontade com esse veículo, o cinema, onde, mais tarde, trabalhei muito.
Reportagem do Jornal A Tribuna de Santos do dia 28 de setembro de 1961 noticiando que em breve seriam iniciadas as gravações do filme “A Ilha”. Na verdade, as filmagens atrasaram, e somente tiveram início no ano seguinte, em 1962. Além disso, a atriz Odete Lara não integrou o elenco do filme.
Eva Wilma
Elizabeth Hartmann
Lyris Castellani
Luigi Picchi
José Mauro de Vasconcelos
Mário Benvenutti
Francisco Negrão
Laura Verney
Mauricio Nabuco
Ruy Afonso
Walter Hugo Khouri, o diretor do filme “A Ilha”.
Eva Wilma em filmagem de “A Ilha”, gravado em 1962, lançado em 1963
Eva Wilma, em gravação para o filme “A Ilha”.
Os protagonistas do filme “A Ilha”, Eva Wilma e Luigi Picchi.
O filme “A Ilha”, gravado nas praias de Bertioga, com a estrela da dramaturgia brasileira, Eva Wilma.
Lyris Castelani, sentada, à esquerda da foto, Elizabeth Hartmann (loira), ao centro da foto e Eva Wilma, sentada, acendendo um cigarro em uma das cenas do filme “A Ilha”.
Laura Verney, em 1962, em cena do filme “A Ilha”.
Gravação do filme “A Ilha”, na Praia do Indaiá, em frente a propriedade de José Ermírio de Moraes, com o elenco principal: Eva Wilma, Luigi Picchi (de óculos), Mario Benvenutti (de bermuda), Ruy Afonso (ao fundo, de camisa preta).
Gravações do filme “A Ilha”, nos jardins da casa de José Ermírio de Moraes, na Praia do Indaiá, em Bertioga. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
Walter Hugo Khouri, o diretor, ajustando a câmera. Ao seu lado, o assistente de direção, Alfredo Sternheim, com apenas 18 anos. É uma das fotos da gravação do filme “A Ilha”, em 1962, nas ruínas da Ermida de Santo Antônio do Guaíbe, às margens do Canal de Bertioga. É possível identificar o ator Luigi Picchi, de óculos escuro e camisa preta, que fazia parte do elenco principal do filme. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
O diretor do filme “A Ilha”, Walter Hugo Khouri, durante as gravações em Bertioga, em 1962. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
O elenco do filme “A Ilha” na Praia da Enseada, em Bertioga. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
O elenco do filme “A Ilha”, na Praia da Enseada, em Bertioga. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
O elenco do filme “A Ilha”, admirando a tranquilidade do mar. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
A equipe se preparando para as gravações do filme “A Ilha”, na Praia da Enseada, em Bertioga. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
Gravações do filme “A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
“A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
“A Ilha”, em mais uma cena filmada nos jardins da casa de José Ermírio de Moraes, na praia da Enseada, em Bertioga. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
“A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
“A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
O diretor Walter Hugo Khouri, de branco, com a mão sobre o ombro de Eva Wilma, no centro da foto e todo o elenco do filme “A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
Cena do filme “A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
Cena do filme “A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.
Cartaz divulgando o filme A Ilha, lançado em 1963 nos cinemas brasileiros. Produzido pela Kamera Filmes e distribuído pela Cinedistri. Melhor filme do ano no Festival de Cinema de Curitiba, realizado em 1964.
Posto Médico - 1963
No dia 23 de abril de 1963, houve a inauguração do Posto Médico de Bertioga, instalado pela Prefeitura de Santos, em uma casa localizada em frente à Avenida Vicente de Carvalho, onde hoje é o Parque dos Tupiniquins.
Jornal “A Tribuna de Santos” noticiava a inauguração do Posto Médico – 1963
Newton Lima de Azevedo, Secretário de Higiene e Saúde da Prefeitura de Santos, quando esteve em visita a Bertioga, adotou uma série de medidas visando melhorar o atendimento médico da população. A intenção era instalar um posto médico permanente, administrado pela Prefeitura de Santos.
O médico responsável pelo atendimento era o Dr. Durval Bruzza. O chefe dos serviços médicos em Bertioga era o Dr. Plinio Camargo.
Incialmente, foi considerado “impraticável” disponibilizar uma ambulância, uma vez que o índice de atendimentos era considerado baixo. Somente no dia 14 de abril de 1964 que a Prefeitura de Santos destacou uma de suas ambulâncias para Bertioga. O Prefeito de Santos José Gomes em comemoração ao terceiro aniversário do início de seu governo, adotou uma série de ações governamentais, e uma delas era entregar a tão desejada ambulância para Bertioga. A cerimônia de entrega ocorreu no Paço Municipal, na Praça Mauá, em Santos. O então Subprefeito de Bertioga Coriolano Mazzoni, em homenagem a João Sabino Abdalla, que trouxe o primeiro veículo para Bertioga em 1929, designou João Sabino Filho (filho de João Sabino Abdalla e funcionário da Prefeitura de Santos) para que fosse à Santos trazer para Bertioga a primeira ambulância oficial. Segundo entrevista de João Sabino Filho ao jornal “Costa Norte” ele retirou a ambulância na Ponta da Praia, em Santos, depois das formalidades de entrega oficial realizadas na sede da Prefeitura santista.
Cerimônia de entrega de uma ambulância para Bertioga, realizada em Santos/SP, em frente ao Paço Municipal, em 14 de abril de 1964. Foto do jornal “A Tribuna de Santos”.
A ambulância ficava ao lado da Delegacia de Polícia na década de 1960, pois não tinha telefone no Posto Médico e em caso de alguma emergência a ligação seria feito ao distrito policial. Foto de 1966, do jornal “A Tribuna de Santos” da Delegacia e a primeira ambulância, na Rua Irmãos Braga.
A Ambulância era um modelo Chevrolet Amazona, anos 1961/1964.
Além dessa iniciativa, a Prefeitura de Santos passou a prestar serviços de atendimento médico-dentário para os estudantes das escolas municipais.
Grupo Escolar de Bertioga (Armando Bellegarde) – 1963
O Grupo Escolar de Bertioga foi criado no ano letivo de 1963. A instalação do grupo escolar foi resultado de um requerimento apresentado em 1962 pelo Vereador Antonio de Cariis ao Prefeito de Santos, que acolheu o pedido e determinou à Diretoria de Ensino que verificasse a existência de número mínimo de alunos.
Os grupos escolares foram criados inicialmente em São Paulo, logo após a proclamação da República, destinados as elites. Consistiam em um método de ensino que procurava romper com os métodos adotados nos tempos da Monarquia. Os grupos escolares se popularizam nas décadas de 1930 e 1940. Ocupavam prédios modernos e em alguns casos imponentes, construídos para esse fim, substituindo os imóveis emprestados e improvisados. O uniforme era obrigatório. Separavam-se meninos e meninas em todos os aspectos. A relação de alunos e professores era um misto de admiração, respeito e medo de ser castigado, moral ou até mesmo fisicamente. Os alunos passaram a ser avaliados de forma diferente ao método imperial, as notas eram de 1 a 10 ou por letras, A, B, C, D, E. Um verdadeiro contesto de humilhação onde todos os alunos precisavam se adequar ao mesmo padrão de conhecimento e raciocínio, sob pena de reprovação. As relações sociais e o ensino passam atualmente por profundas modificações.
Em 1967, através da Lei Estadual nº 9.925 recebe a denominação de Grupo Escolar Prof. Armando Bellegarde, em homenagem ao prestigiado professor de Santos, que acabava de falecer.
Armando Bellegarde nasceu em São Paulo, em 1885. Formou-se na Escola Normal do tradicional colégio paulistano Caetano Campos, em 1906. Consagrou sua vida ao magistério primário, lecionando por 30 anos no Grupo Escolar Docas, em Santos. Foi Diretor do Grupo Escolar Barnabé e do Grupo Escolar Cesário Bastos, onde se aposentou em 1946, após ter lecionado por 36 anos. Foi também durante muitos anos comissário de menores. Era filho de Firmino G. Bellegarde e Francisca de Barros Bellegarde. Foi casado com a Professora Anália Salles Bellegarde. Tiveram duas filhas: Doracy e Nelly. Faleceu aos 82 anos, em 20 de outubro de 1967.
Armando Bellegarde, em foto de 1946, da Revista Flamma.
Acervo de Ivanize Sant’Anna da Silva. Foto publicada em 1º de abril de 2005 na seção Imagem do passado do jornal “A Tribuna de Santos”. Em pé, o Professor Armando Bellegarde, as professoras de preto no centro da imagem e as alunas do Grupo Escolar Cesário Bastos, na década de 1930.
Quando o Grupo Escolar de Bertioga foi criado, o seu objetivo principal era o oferecimento do “ginásio”, que correspondia aos quatro anos finais do atual ensino fundamental. Porém, o ginásio só foi instalado em 1969, pelo Decreto Estadual nº 51.335.
O Grupo Escolar de Bertioga funcionava onde hoje é a Casa da Cultura Emancipadora Professora Norma dos Santos Mazzoni. Em 1973 foram transferidas provisoriamente para a Escola Municipal Delphino Stockler de Lima algumas séries do ensino fundamental (1ª, 2ª, 3ª e 4ª) e o ginásio continuou na Casa da Cultura. Em 1980 o Grupo Escolar e o ginásio foram substituídos pela EEPSG Prof. Armando Bellegarde na Rua Bartolomeu Fernandes Gonçalves, na Vila Itapanhaú.
Henrique Costábile é nomeado Subprefeito - 1964
Henrique Costábile atuou como Subprefeito de Bertioga por um curto período, de 22/06/1964 a 20/04/1965, logo substituído por divergências políticas com os vereadores de Santos. Foi nomeado por Fernando Hortalla Ridel, que assumiu a Prefeitura de Santos provisoriamente, no início da intervenção militar de 1964, permanecendo no cargo também por curto período.
Henrique Costábile
Alberto Alves é nomeado Subprefeito - 1965
Na segunda gestão do Prefeito de Santos, Sílvio Fernandes Lopes, no seu primeiro dia de governo, nomeia Alberto Alves Subprefeito de Bertioga. Alberto Alves, por ser português naturalizado, enfrentou no início rejeição da população e de alguns Vereadores de Santos. A portaria de nomeação foi publicada no dia 20 de abril de 1965, mas somente tomou posse no cargo no dia 26 de abril de 1965, encerrando seu mandato em 1969. Pediu exoneração no dia 15 de abril de 1969. É substituído por Faustino Gomes, que foi secretário de Alberto Alves.
O primeiro banco - 1965
A primeira agência bancária de Bertioga, instalada por iniciativa de Coriolano Mazzoni, foi o Banco Nacional da Lavoura e Comércio, que funcionou de 1965 a 1968, tendo como seu gerente o próprio Coriolano Mazzoni. Depois vieram as agências da Nossa Caixa Nosso Banco e do Itaú. Acontece que naquela época os salários eram pagos somente em determinados bancos ou agências, e para que os trabalhadores de Bertioga recebessem precisavam ir até Guarujá ou Santos sacar seus salários. Somente a partir do início dos anos 1990 que Bertioga passa a contar com agências de quase todos os bancos.
Logotipo e slogan do Banco Nacional da Lavoura e Comércio S.A.
A energia elétrica - 1965
Embora Bertioga possuísse em seu território a Usina Hidrelétrica de Itatinga, inaugurada em 1910, foi somente na década de 1960 que Bertioga passou a contar com energia elétrica. Antes disso, as casas eram iluminadas com lampião. Algumas propriedades possuíam motor para gerar energia. Porém, nunca houve iluminação das ruas da Vila de Bertioga.
O Subprefeito Coriolano Mazzoni foi um dos grandes articuladores para a conquista da chegada da energia elétrica em Bertioga. Houve um grande empenho junto ao Governo do Estado e Prefeitura de Santos. Muitos Vereadores de Santos questionavam a demora na iluminação de Bertioga. Estudos foram realizados e alternativas apresentadas. Era preciso que fosse instalada uma subestação de energia.
A energia elétrica, na época, foi fornecida pela Usina Hidrelétrica de Itatinga. Em novembro de 1965 os trabalhos de ligação do sistema de eletricidade estavam concluídos. A empresa Bandeirante de Eletricidade S. A. (BELSA) foi a responsável pelos serviços.
Mas antes mesmo da energia elétrica chegar em Bertioga, a Prefeitura de Santos deu início em 1961 às obras de instalação dos postes e da rede de fiação elétrica. Esse serviço foi concluído em 1962, gerando críticas da população, que ainda precisou esperar mais três anos até que a energia efetivamente chegasse.
Em novembro de 1965 foi formada uma comissão para organizar os festejos comemorativos para a inauguração da rede de energia elétrica e iluminação pública. A comissão foi formada em apoio a Prefeitura de Santos, o seu presidente era Alberto Alves (Subprefeito), Faustino Gomes (Secretário), Licurgo Mazzoni (Tesoureiro). Os membros da comissão foram recebidos pelo Prefeito de Santos. Os membros eram o Dr. Durval Bruzza, Antônio Dib, Florinda Scano, Humberto Silva Piques, Afonso Paulino, Antônio Simões, Antônio Pepe, João Silva, Epiphânio Batista, Jaime Pina Nascimento, Domingos Oliveira, Coriolano Mazzoni, João Sabino Abdalla, Mario de Jesus Placido, Manoel Gajo e José Batista, além de Maria Felicidade Guerreiro, que organizou quase tudo.
Encontro da comissão de moradores de Bertioga com o Prefeito de Santos, tratando das últimas providências para a cerimônia de inauguração e suas festividades. Sentada, de branco, está Felicidade, ouvindo o Prefeito de Santos falar. Felicidade foi uma das mulheres mais atuantes nas atividades sociais da Igreja Católica São João Batista e do Lions Club de Bertioga, organizada, dedicada e competente em tudo que fez. Foto de novembro de 1965 no Paço Municipal de Santos.
A inauguração da energia elétrica em Bertioga ocorreu, oficialmente, no dia 8 de dezembro de 1965. Foram vários dias de preparativos para essa inauguração. Ela aconteceu na Praça Armando Lichti, em um dia chuvoso, com a presença de moradores e estudantes. Antes do evento começar, a população já olhava curiosa os testes com lâmpadas de como seria a inauguração à noite.
Foi um dia inteiro de eventos. O primeiro a chegar foi Silvio Fernandes Lopes, Prefeito de Santos, sendo recepcionado por Alberto Alves, que lhe entregou a chave da cidade. Na sequência, a banda da Força Pública começou a tocar e as crianças saudaram as autoridades que chegavam. Isso foi por volta das 10:30 da manhã. E, logo depois, chegou o Governador Adhemar de Barros, cercado por diversos secretários e militares. A bandeira do Brasil foi hasteada pelo Governador, e a bandeira do Estado de São Paulo, pelo Prefeito de Santos. O General Amaury Kruel descerrou a placa comemorativa, que se achava coberta por uma bandeira de São Paulo. Era uma placa de bronze, histórica, com os seguintes dizeres, assim registrados pelo Jornal “A Tribuna de Santos”: “Governo do Estado de São Paulo – Plano de Desenvolvimento Integrado – Governo Ademar de Barros – Energia Elétrica ‘da’ Bertioga – 1965”.
Na sequência, houve a cerimônia de quebra dos velhos lampiões.
Em entrevista ao Jornal Costa Norte, Romualdo Santana Junior, contou que a inauguração da energia elétrica foi feita pelo Governador Ademar de Barros, que ao chegar a cidade pela Estrada Guarujá-Bertioga, “pegou um lampião das mãos de Miguel Bichir e outro lampião das mãos de João Sabino, e durante o evento de inauguração, bateu um lampião no outro e a luz acendeu”. Na cerimônia os lampiões foram quebrados, representando o início de uma nova fase no desenvolvimento da Vila. Os moradores mais antigos de Bertioga também levaram seus melhores lampiões, que igualmente foram quebrados.
Dona Lola, uma das moradoras mais antigas, que vivia em Bertioga desde 1925, estava eufórica com a iluminação. Ela trouxe os lampiões que iluminavam a sua casa na terra natal, a Espanha, e um deles, segundo Dona Lola, tinha mais de 300 anos.
Momento em que os lampiões de João Sabino Abdalla e Miguel Seiad Bichir (não aparecem na foto) são jogados ao chão. No centro, de terno preto, o então governador do Estado de São Paulo Ademar de Barros. Do lado esquerdo da foto: o Prefeito de Santos Silvio Fernandes Lopes (terno preto) e o Subprefeito de Bertioga Alberto Alves (terno cinza).
O Governador Adhemar de Barros, ao perceber que o Capitão dos Portos do Estado de São Paulo, Comandante Roberto Coutinho Coimbra, estava sem lampião, exclamou, em tom de brincadeira: “dá uma lanterna aqui para o comandante, porque tiraram a dele”.
No centro, de terno preto, o então governador do Estado de São Paulo Ademar de Barros. Momento em que o sistema de energia elétrica é inaugurado.
Ademar de Barros na cerimônia de inauguração realizada na Praça Armando Lichti.
A grande comitiva de autoridades foi em direção ao Forte São João para conhecer, seguindo depois para a Colônia de Férias do SESC, que ofereceu um almoço. Era um churrasco, com carnes, linguiça, farofa e salada. Para o Governador Adhemar de Barros foi servido, especialmente, um peixe, para “matar a vontade dele”, pois já no seu desembarque da balsa ele disse que veio para comer um peixe. Durante o almoço, teve discurso do Prefeito de Santos, Silvio Fernandes Lopes, que foi muito aplaudido. Então, o Governador, aliado político do Prefeito, disse em voz alta, em momento de descontração e para o riso de todos: “como tem puxa (saco) por aqui”.
À tarde, teve desfile de carnaval e baile popular em um palanque montado na Praça Armando Lichti.
Mas o ponto alto foi quando chegou à noite. Às 20:00 horas, a chave ligando a energia elétrica foi acionada pelo Prefeito de Santos, o engenheiro Silvio Fernandes Lopes.
Depois, na sede do Bertioga Futebol Clube, foi então coroada a Rainha da Luz (Miss Luzes de Bertioga) Dina Rodrigues Martins, com 18 anos, escolhida pela Professora Edilene Sudan pela sua simpatia e beleza inquestionável.
Subprefeito Alberto Alves. Professora Edilene Sudan. No centro, Dina Rodrigues Martins, aos 18 anos, a Rainha da Luz.
É um dos momentos mais icônicos da história de Bertioga, abrindo-se um novo capítulo no desenvolvimento.
Tornava-se possível a instalação de indústrias, estabelecimentos comerciais e grandes empreendimentos imobiliários. Foi um fator determinante para a expansão da Vila de Bertioga. A população passou a ter condições adequadas para viver com dignidade, possuindo equipamentos domésticos mínimos de conforto e higiene, como geladeira, chuveiro e luz elétrica.
Plano de Urbanização de Bertioga - 1966
A primeira iniciativa de planejamento urbano em Bertioga começa em 1948, com a Lei nº 996, de Santos, que delimitou a zona urbana e suburbana da Vila de Bertioga. No ano seguinte, em 1949, a Lei nº 1.037, de Santos, autorizou que a Prefeitura promovesse e organizasse o “Plano de Urbanização da Vila de Bertioga”, compreendendo os serviços de transporte, iluminação e abastecimento de água. Ainda em 1949, a Lei nº 1.051, de Santos, aprova o plano de arruamento da Vila “da” Bertioga. Foi por esta lei que ficou aprovado o prolongamento da avenida paralela a orla da praia, devendo ter largura de 33 metros por toda sua extensão. Mais tarde, essa avenida receberia o nome de Tomé de Souza. Em 1955, a Lei nº 1.774, aprovada pela Câmara de Santos, delimita um novo perímetro para a zona urbana de Bertioga, revogando a Lei nº 996/48.
Em 27 de abril de 1966 o Prefeito de Santos, Silvio Fernandes Lopes, reuniu-se com diretores da PRODESAN, com o Secretário de Obras, engenheiro Armando Martins Clemente, e com representantes da empresa que elaborava o Plano de Urbanização de Bertioga. Nesta reunião foi discutido o sistema viário, em especial a criação da futura Avenida Anchieta. Silvio Fernandes Lopes também determinou que os problemas de saneamento de Bertioga fossem resolvidos.
Os técnicos da PRODESAN também realizaram diligências a diversos órgãos públicos para que a Rodovia Rio-Santos, assim como os dutos de óleo da PETROBRAS fossem instalados próximos ao Rio Itapanhaú, sem comprometer a urbanização da futura cidade.
Pela Lei nº 3.532, de 16 de abril de 1968 são aprovadas as “normas ordenadoras e disciplinares do planejamento físico do Distrito de Bertioga”. O objetivo dessa regulamentação que ordenava o solo urbano de Bertioga era estabelecer regras na elaboração e na aprovação de projetos arquitetônicos de edificações de qualquer natureza no que se refere ao ordenamento e disciplina do uso dos terrenos, quadras, lotes e edificações, bem como as densidades demográficas residenciais liquidas, ao aproveitamento do lote, à altura do edifício à ocupação do lote, às áreas de iluminação e ventilação e aos recuos mínimos em relação as divisas do lote. Esta lei também regulamentava a urbanização de terrenos e a implantação de loteamentos, desmembramentos e condomínios.
Para o Distrito de Bertioga as áreas urbanas e de expansão urbana ficaram compreendidas entre a costa marítima e a rodovia federal projetada, ligando Santos ao Rio de Janeiro.
As áreas urbana e de expansão urbana do Distrito de Bertioga ficaram divididas em praias, observadas as seguintes designações: a) Praia da Enseada; b) Praia de São Lourenço; c) Praia de Itaguaré; d) Praia de Guaratuba; e) Praia de Boracéia. As zonas de uso do solo foram estabelecidas em: a) zona turística; b) zona residencial; c) zona mista.
Nos terrenos situados na costa marítima e nas margens dos rios, riachos e córregos, onde se façam sentir influência das marés só poderia haver ocupação por via ou edificação a partir das seguintes distâncias mínimas em metros, medidos horizontalmente para a parte da terra, constados do limite dos terrenos de marinha, observada a legislação federal vigente: a) 33,00 m (trinta e três metros) na Praia da Enseada; b) 66,00 m (sessenta e seis metros) na costa marítima e 33,00 m (trinta e três metros) nas margens dos rios, riachos, córregos, nas praias de São Lourenço, Itaguaré, Guaratuba e Boracéia. Nos terrenos marginais de rios, riachos, córregos e lagoas, fora do alcance das marés só poderia haver ocupação por via ou edificação a partir de uma distância de 33,00 m (trinta e três metros), no mínimo, medidos horizontalmente para a parte da terra, contados da linha média das enchentes ordinárias.
Concomitantemente ao ordenamento urbano de Bertioga, foi aprovado o Plano Diretor de Santos (Lei nº 3.529/68), o Código de Edificações de Santos (Lei nº 3.530/68), o Código de Posturas de Santos (Lei nº 3.531/68) e as Normas Ordenadoras e Disciplinadoras dos Morros de Santos (Lei nº 3.532/68).
Em 1976, pela Lei nº 4.078, é instituído o “Código de uso do solo e proteção dos recursos naturais do Distrito de Bertioga”, revogando a Lei nº 3.532/68, e apresentando novas disposições sobre o uso, ocupação e parcelamento do solo urbano. Entretanto, a Lei nº 4.526, de 1982, estabeleceu que deveriam ser observadas as diretrizes fornecidas na legislação anterior para os projetos em análise ou execução, além de outras disposições. Em 1986, pela Lei nº 173, a Câmara de Santos aprova um novo “Código de uso do solo e proteção de recursos naturais do Distrito de Bertioga”.
Incentivando o desequilíbrio no ordenamento e planejamento do território urbano municipal, a Prefeitura de Santos conseguiu aprovar a Lei nº 450, de 18 de novembro de 1988, autorizando que ficassem conservadas, a título precário, as obras executadas clandestinamente, em imóveis residenciais de tipo unifamiliar ou econômico, desde que atendam aos critérios de higiene e segurança e não atentem contra direitos dos proprietários vizinhos.
Primeiras linhas de ônibus - 1967
A balsa entre Bertioga e Guarujá foi inaugurada em 1954 e a Estrada Guarujá-Bertioga somente foi asfaltada em 1959. Há notícia que a partir do ano de 1959 esse trecho passou a ser servido pelos ônibus da Viação Guarujá. Os ônibus não atravessavam a balsa, pois o ponto final deles ficava no Guarujá, ao lado da travessia e iam até o Itapema (Vicente de Carvalho). Os horários eram os seguintes: a) de Itapema a Bertioga (06:00, 08:00, 10:00, 12:00, 14:00, 15:00, 17:00 e 18:00); b) de Bertioga a Itapema (07:30, 09:30, 11:30, 13:30, 15:30, 16:30, 18:30 e 19:00).
Os ônibus da Viação Guarujá, entregues em 1960, para a linha entre Bertioga e Guarujá.
O serviço de transporte coletivo urbano servindo os bairros de Bertioga somente chegaria alguns anos depois.
Em sessão legislativa extraordinária realizada em 5 de setembro de 1963 o vereador Geraldo Perrone apresentou na Câmara Municipal de Santos requerimento para que a Prefeitura de Santos criasse uma linha de ônibus em Bertioga. Em maio de 1966 o vereador Geraldo Peres Gil apresentou requerimento semelhante.
Em comemoração aos seus dois anos de governo, que completaria em 14 de abril de 1967, o Prefeito de Santos Silvio Fernandes Lopes queria entregar esse importante e inédito serviço público para Bertioga. Determinou que o SMTC (Serviço Municipal de Transportes Coletivos) providenciasse as medidas necessárias para instalação de uma linha de ônibus no Distrito. Foi assim que em 22 de abril de 1967 foi inaugurada a primeira linha oficial de ônibus urbano de Bertioga.
Em 1966 a Prefeitura de Santos adquiriu diversos ônibus da Mercedes Benz para servirem o público santista. Porém, para Bertioga, não vieram os ônibus Mercedes Benz, mas os veículos da Fábrica Nacional de Motores – FNM (Fenemê).
Foi criada pela Prefeitura de Santos a Viação Bertioga Ltda, como “permissionária” da SMTC, mas extintas em 1976, dando lugar a CSTC (Companhia Santista de Transportes Coletivos).
Em 1967, para início das operações, a Viação Bertioga disponibilizou dois ônibus, enquanto o SMTC forneceu três, totalizando cinco ônibus para Bertioga.
Nessa época, o Distrito não possuía via pública asfaltada e quase todo o trânsito circulava pelas praias ou por algumas ruas com acesso precário. Em pouco mais de um ano de serviço os ônibus ficaram bem avariados, com diversos problemas mecânicos pelo esforço necessário nas ruas de Bertioga.
Jornal “A Tribuna de Santos” – Edição de 21/04/1967
Um dos ônibus da SMTC, adquirido pela Prefeitura de Santos diretamente da fabricante Mercedes Benz.
Ônibus produzidos pela FNM (Fábrica Nacional de Motores) utilizados nos primórdios do serviço de transporte coletivo urbano em Bertioga.
Os ônibus atendiam os bairros do Centro, SESC, Itatinga, Itaguaré, chegando à São Sebastião, em Barra do Uma.
Jornal Cidade de Santos. Tabela com as linhas de ônibus de Bertioga publicada em 30 de junho de 1973.
Expresso Rodoviário Atlântico - 1967
Consta na Junta Comercial do Estado de São Paulo que o “Expresso Rodoviário Atlântico” teve a atividade iniciada em 19 de janeiro de 1962. Entretanto, há informações publicadas na imprensa da época que mencionam o “Expresso Rodoviário Atlântico” em 1956, ligando São Paulo à Sebastião por micro ônibus, em anúncio pago pela empresa no Correio Paulistano, de 27 de dezembro de 1956. Não há notícias antes disso sobre o “Expresso Rodoviária Atlântico”.
Anúncio do jornal Correio Paulistano, de 27 de dezembro de 1956.
Desde 1956, o ponto de embarque em São Paulo era na Rua Rio Branco, nº 621, e depois passou a ser na mesma rua, no nº 511, mas em 1º de fevereiro de 1961 o ponto de embarque foi alterado para a Estação Rodoviária de São Paulo (Terminal Rodoviário da Luz), que acabava de ser inaugurado.
Nessa mesma época, servia as linhas de São José dos Campos, Paraibuna, Caraguatatuba, São Sebastião, Ilha Bela e Ubatuba.
No livro História de Santos e Polianteia de Santos, Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti, escreveram que “desde a abertura da estrada Bertioga-São Sebastião, tão logo as pontes de madeira, em profusão, foram reforçadas, no final da década 60, o Expresso Rodoviário Atlântico manteve uma linha de ônibus regular, com transporte de encomendas e passageiros, com dois horários por dia, de Santos e de São Sebastião, com agência em Bertioga, sem dúvida um transporte pioneiro na integração de quase duzentos quilômetros do litoral paulista.
Ainda segundo Francisco Martins dos Santos e Fernando Martins Lichti, o Expresso Rodoviário Atlântico possibilitou aos caiçaras do litoral Norte de São Paulo que se comunicassem com os centros urbanos, livrando tantos núcleos de modestos pescadores e lavradores diversificados pelas numerosas praias de muitas décadas enfrentando a miséria, a doença e o analfabetismo de tantas gerações.
O jornal A Tribuna de Santos, de 26 de novembro de 1967, na página 26, menciona que “no trecho Bertioga-Maresias já está em funcionamento uma linha de ônibus do Rodoviário Atlântico”. Quando fala, “já está em funcionamento”, passa a ideia que acabou de ser criado ou instalado o serviço. O mesmo jornal também menciona que até então, para se chegar à Santos, era preciso que a população de São Sebastião se deslocasse por embarcações. O jornal está se referindo a viagem que era feita pelo mar para chegar na balsa de Bertioga, atravessar para o lado de Guarujá, e lá pegar os ônibus em direção a balsa que atravessava para Santos.
Em 1967 já estava extinto o serviço de travessia fluvial entre Bertioga e Santos, razão pela qual a população ia de ônibus para Santos. O objetivo era fazer compras. Quase nada era comprado em São Paulo. A população ia para Santos comprar alimentos e vestuário. O atendimento médico mais profissional também era em Santos.
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, de 27 de outubro de 1967, o Expresso Rodoviário Atlântico mantinha quatro ônibus diários para São Sebastião, sendo três via São José dos Campos e Caraguatatuba, às 06:00, às 12:00 e às 18:30, e um via Santos e Bertioga, em apenas um horário, às 06:40 da manhã, possivelmente com saída de São Sebastião. Na verdade, ele não ia até Santos. Ia até a balsa de Bertioga.
A linha entre Bertioga e São Sebastião do “Expresso Rodoviário Atlântico” somente se tornou possível com a estrada de São Sebastião e com a conclusão das primeiras etapas da Rodovia Rio Santos. Mesmo assim, em 1967 as condições ainda eram precárias, pois diversos trechos não contavam com asfalto.
O jornal A Tribuna de Santos de 24 de setembro de 1969 menciona quatro ônibus entre São Sebastião e Bertioga, dois em cada sentido. Nessa época, os estudantes das populações dos vilarejos, sem escola, pediam que os horários coincidissem com o início e término das aulas.
A agência do Expresso Rodoviário Atlântico funcionou ao lado da Venda de Miguel Bichir, na Avenida Vicente de Carvalho, e ali trabalharam Neide Bichir e Nazaré Penha Moreira. No mesmo local eram vendidas passagens da Viação Cometa e da Viação Coringa, para São Paulo. Teve um período que essa agência passou a funcionar em uma pequena sala ao lado da Panificadora São João da Barra, na Rua Irmãos Braga.
Ônibus do Expresso Rodoviário Atlântico, em 1969, na Praia de Caraguatatuba
Ônibus do Expresso Rodoviário Atlântico, em 1969, atravessando a ponte sobre o Rio Santo Antonio, em Caraguatatuba
Estação Rodoviária de São Paulo (Terminal Rodoviário da Luz). Inaugurado em 1961, foi o principal terminal rodoviário da cidade de São Paulo até o ano de 1982, quando foi construído o Terminal Rodoviário Tietê. Ficava localizado na Praça Júlio Prestes, na região da Luz, no centro de São Paulo.
O ônibus e a agência de Bertioga do “Expresso Rodoviário Atlântico”, no início da década de 1980, na Avenida Vicente de Carvalho, na antiga casa onde ficava a famosa venda do libanês Miguel Bichir. Autor da foto: Carlos Asa. Publicada na internet no site: https://onibusbrasil.com/empresa/expresso-rodoviario-atlantico
Expresso Rodoviário Atlântico, em 1986, transitando pelas ruas de Bertioga. Foto do jornal “Cidade de Santos”.
A empresa foi “extinta” em 1995, dois anos após uma tragédia que vitimou 17 passageiros na Serra de Caraguatatuba, na Rodovia dos Tamoios. Foi substituída pela Viação Litorânea, também extinta.
Grupo Escolar Jardim Rio da Praia (William Aureli) - 1968
A Prefeitura de Santos realizou uma licitação no ano de 1967, na gestão do Prefeito Silvio Fernandes Lopes para que fosse construída uma escola no Jardim Rio da Praia em Bertioga. O prédio foi entregue em 1968. No mesmo ano, o Prefeito de Santos assinou um decreto denominando a escola de “Grupo Escola José de Anchieta”. Em 1977 o Decreto Estadual nº 9.491 oficializa o grupo escolar como EEPG Rio da Praia. Em 1979 passa a receber a denominação de Escola Estadual William Aureli.
William Aureli nasceu no dia 18 de junho de 1898. Filho do casal de italianos Augusto Aureli e Luiz Scamperli Aureli. Foi jornalista, escritor e sertanista. Há divergências de informações se ele nasceu em Santos, São Vicente ou São Paulo. Foi casado com Nair de Abreu, mas estava separado quando faleceu. Ele assinava seus livros e crônicas como Willy Aureli. Iniciou sua carreia na sucursal de São Vicente do jornal “A Tribuna de Santos” antes de se mudar para São Paulo onde fez trabalhos para os jornais Folha de São Paulo, Folha da Manhã, Folha da Tarde e Folha da Noite. Participou de diversas entrevistas em jornais, revistas e televisão. Era famoso e prestigiado entre os intelectuais. Foi presidente da Associação Paulista de Imprensa. Desbravador dos sertões de Goiás e Mato Grosso, que frequentemente recebia a visita dos também sertanistas irmãos Vilas Boas. Willy Aureli foi o precursor do turismo de Ubatuba, pois foi quem divulgou a cidade após várias visitas, para registrar e noticiar nos jornais da capital sobre o que ocorria no Presídio da Ilha Anchieta. Foi ele também quem revelou a escritora Idalina do Amaral Graça. A obra literária de Willy Aureli tem como tema as selvas e os povos indígenas. É autor de vários livros: Bugres no Rio das Mortes, Sertões bravios, O rio da solidão, Terra sem sombra, Esplendor Selvagem, Roncador, Bandeirantes D’oeste, Biu Marrandu, Sumaúma, Léguas sem fim e Cours de Francais. Faleceu no dia 29 de agosto de 1968 em São Paulo.
William Aureli em foto de 1937, na Ilha do Bananal, em Mato Grosso. Aureli fundou a “Bandeira Piratininga”, expedição sertanista com o propósito de desbravar os sertões brasileiros. A experiência vivida nessa expedição é narrada em seu livro, Roncador.
William Aureli (década de 1940).
William Aureli (década de 1960).
Faustino Gomes é nomeado Subprefeito - 1969
Faustino Gomes atuou como Subprefeito de Bertioga de 1969 até 1974. Participou de um período com a execução de diversas obras de urbanização na Vila e entrega de prédios públicos. Foi nomeado pelo Prefeito de Santos, o General Clóvis Bandeira Brasil.
Nasceu no dia 8 de setembro de 1923 em Santos e faleceu aos 78 anos no dia 8 de julho de 2002, em Santos. Era filho de Maria do Céu e Secundino Gomes. Casado com Carmem Delgado Gomes. Tiveram os filhos Maritana e Wladimir.
Faustino Gomes em 1969.
Faustino Gomes em 1974.
Faustino Gomes em 2002.
Faustino Gomes foi nomeado como “Subprefeito”, mas durante o exercício do cargo, foi promulgada uma lei que promovia a reestruturação da Prefeitura de Santos. Pela Lei Municipal nº 3.667, de 3 de dezembro de 1970 a nomenclatura do cargo foi alterada para “Administrador Regional”.
Já a “Subprefeitura de Bertioga” foi extinta pela Lei Municipal nº 4.348, de 9 de setembro de 1980, qualificada e classificada como uma simples “unidade administrativa” de Santos e transformada em “Administração Regional de Bertioga”, permanecendo assim até 1990, quando Santos volta a criar o cargo de “Subprefeito” e a “Subprefeitura”.
Nessa época, a Prefeitura de Santos tentava demonstrar sua força e hierarquia sobre Bertioga. Havia forte resistência em aceitar Bertioga como uma “Subprefeitura”, dando a impressão de independência. As autoridades públicas de Santos, a imprensa santista e sua população eram majoritariamente contrários a emancipação de Bertioga.
As indústrias de beneficiamento de pescados - 1970
Na década de 1960, instalaram-se no Canal de Bertioga, ao longo da Estrada Guarujá/Bertioga diversas indústrias de beneficiamento de pescado, principalmente sardinha (Interpesca, Pescatlan, Edemar, Sipesca e Sardimar).
Também se instalaram em Bertioga grandes indústrias. A Pescanova (1968) e a Multipesca (1970), nas margens do Rio Itapanhaú. Não houve resultado relevante para Bertioga na geração de empregos e tributos. Na década de 1980 as indústrias de Bertioga entraram em decadência e encerraram suas atividades.
Em 1973, discutia-se a instalação de um entreposto de pesca na área compreendida entre a ponte sobre o Rio Itapanhaú e o Canal de Bertioga. A pretensão era a instalação de uma estrutura maior e mais moderna do que a de Santos. Esse projeto seria desenvolvido em uma área de mangue, que seria aterrada com areia extraída do fundo do Canal de Bertioga. Essa era a proposta da Prefeitura de Santos e da Subprefeitura de Bertioga, que precisa ser entendida conforme a legislação da época, considerando que o conceito de meio ambiente no início dos anos de 1970 ainda era desconhecido. O projeto não obteve recursos financeiros para ser executado, além da forte resistência de setores de Santos com o protagonismo de Bertioga.
Palácio dos Bandeirantes. Sede do Governo do Estado de São Paulo. 1968. O Governador Laudo Natel está no canto direito da fotografia, guardando sua caneta no bolso do paletó, enquanto acompanha os demais presentes assinarem o contrato de empréstimo e financiamento da PESCANOVA. Fonte: Arquivo do Estado de São Paulo.
A urbanização do Centro e as primeiras vias pavimentadas de Bertioga - 1971
O Engenheiro Carlos Lang, Diretor de Obras da Prefeitura de Santos, planejou em 1942 o alargamento e reurbanização da Avenida Vicente de Carvalho. Carlos Lang também foi Subprefeito de Bertioga entre os anos de 1948 e 1949. É conhecido em Santos por ser o Diretor de Obras da Prefeitura na época em que este órgão criou as “muretas de Santos”, em 1941.
O projeto desenhado por Carlos Lang para a Avenida Vicente de Carvalho foi executado pelo Subprefeito Silvio Rodrigues, entre os anos de 1953 e 1954.
Contribuíram para o alargamento da Avenida Vicente de Carvalho diversos proprietários de terras: Armando Lichti, a família Besser, Miguel Seiad Bichir, Miguel Arcanjo, doando suas terras ao Município de Santos, tornando possível o projeto desenvolvido por Carlos Lang.
O alargamento resultou em duas pistas, com um imponente canteiro central e vagas para estacionamento de veículos, além de um amplo espaço livre para a instalação dos jardins e calçadas ao longo da orla do Canal de Bertioga. É nessa época que são plantados os coqueiros no canteiro central, do qual ficou responsável a equipe de obras da Subprefeitura de Bertioga, que tinha como Mestre (Encarregado) Deolindo Fernandes Lisboa.
No ano de 1969, foi anunciada a pavimentação da Avenida Vicente de Carvalho e a construção de um embarcadouro de concreto para lanchas de pequeno porte e iates. A execução das obras ficaria por conta da PRODESAN.
A histórica “ponte de atracação” das lanchas que realizavam a travessia Santos-Bertioga foi removida, para que no mesmo lugar fosse instalada uma ponte de concreto:
Primeira avenida pavimentada de Bertioga, a “venda” de João Sabino Abdalla aparece em frente a construção da futura ponte de atracação de concreto (embarcadouro). É possível identificar nesta foto parte da casa de materiais de construção do “Mazzoni”, a Colônia de Pescadores, a casa de João Sabino Filho. Ainda aparecem os antigos estabelecimentos comerciais de Elias Nehme e Miguel Bichir. Foi instalada uma grande placa informando sobre as obras de urbanização como se observa da imagem.
No dia 16 de janeiro de 1971 ocorreu a inauguração do “embarcadouro”, da pavimentação e da canalização da Avenida Vicente de Carvalho. O Prefeito de Santos, General Clovis Bandeira Brasil, com sua comitiva de secretários, veio em uma lancha da Companhia Docas de Navegação, que atracou no embarcadouro. O Subprefeito de Bertioga, Faustino Gomes, aguardava para a recepção, mas precisou esperar, pois houve certa dificuldade de atracar a lancha na “ponte”.
O atracadouro em forma de “T”, com 40 metros de comprimento em direção às águas do Canal de Bertioga, estava todo enfeitado de bandeiras brancas e verdes. Houve queima de fogos.
Ao chegar, o interventor Clóvis Bandeira Brasil, ao lado do Subprefeito Faustino Gomes, inaugurou o atracadouro, que tinha uma fita e teve seu laço cerimonialmente desfeito.
Houve um desfile da Banda do Colégio Moderno pela Avenida Vicente de Carvalho. Discursos foram proferidos e a placa foi descerrada. O Presidente da PRODESAN Anibal Martins Clemente discursou dizendo que Bertioga está agora acompanhando a arrancada brasileira: não se podia desconhecer a importância turística dos seus 40 quilômetros de praias; o General Bandeira Brasil, no início do seu governo, me pediu que fizesse tudo o que fosse possível por esse subdistrito; e 1970 foi o começo das primeiras obras de desenvolvimento do local; as obras que estão sendo inauguradas representam muito para um lugar onde não havia nem um metro quadrado de asfalto.
Disse o interventor General Clovis Bandeira Brasil: “quem tem recursos financeiros, deve comprar terras por aqui, Bertioga vai se desenvolver muito”.
A esposa de Clovis Bandeira Brasil, Senhora Iolanda França Brasil, recebeu um ramo de antúrios. O Prefeito recebeu uma “salva de prata” (placa/bandeja de metal comemorativa). Coube a Humberto da Silva Piques, que fazia parte da comissão organizadora dos festejos de inauguração, entregar a homenagem ao interventor federal.
As autoridades percorreram toda a Avenida e depois foram em direção à Rua Irmãos Braga e a Praça Armando Lichti, também pavimentadas. Depois, seguiram para a sede da Subprefeitura para a assinatura de um novo contrato para execução de uma ponte na Rua João Ramalho.
O Monsenhor Nelson de Paula veio de Santos para benzer o embarcadouro, o que aconteceu ao meio-dia e meia. Depois, parte da comitiva seguiu Clovis Bandeira Brasil até uma visita à indústria de pescados Multipesca. Depois foram almoçar em uma churrascada oferecida por moradores. Outra parte da comitiva foi almoçar no SESC.
À noite, às 19:00 horas, houve a inauguração da iluminação pública da Avenida e dos jardins.
A placa estava instalada sobre um “púlpito” de concreto, localizado dentro dos jardins, próximo ao atracadouro e de frente para a Avenida Vicente de Carvalho. Na foto acima de 1971 o interventor federal General Clovis Bandeira Brasil inaugura a drenagem e pavimentação de algumas ruas de Bertioga, removendo da placa o tecido que a cobria. Do lado esquerdo da imagem, de óculos, está o Subprefeito Faustino Gomes. A criançada adorava brincar nesse monumento histórico, que lamentavelmente foi removido em uma das obras de urbanização. Foto do jornal “Cidade de Santos”.
Banda do Colégio Moderno desfila na Avenida Vicente de Carvalho, em 1971, com 120 componentes, desfilando e fazendo evoluções em uma das pistas durante as cerimonias de inaugurações. Foi tocada a música “pra frente Brasil”, um símbolo da propaganda do regime militar na época: Noventa milhões em ação; Pra frente Brasil, no meu coração; Todos juntos, vamos pra frente Brasil; Salve a seleção!!! (…)
O embarcadouro de concreto no dia da inauguração – 1971
Faustino Gomes (esquerda) e Clóvis Bandeira Brasil (direita) puxam a fita de inauguração instalada na “ponte” (embarcadouro) – 1971
Avenida Vicente de Carvalho – 1971
Embarcadouro substituiu a ponte de atracação de madeira. É possível identificar, da esquerda para a direita: a loja de materiais de construção do Mazzoni, a venda de João Sabino Abdalla, a venda do Faninho, a venda de Elias Nehme e a de Miguel Bichir, em frente ou próximas ao moderno embarcadouro, que até contava com iluminação. Em 1985, a balsa teve problemas mecânicos e se chocou contra o embarcadouro, derrubando uma das escadarias.
O antigo “embarcadouro” foi reformado na década de 1990 e denominado de Píer Licurgo Mazzoni. Depois, foi demolido na década de 2000, mantendo-se o nome em homenagem ao consagrado emancipacionista.
O antigo barranco entre as casas e as águas do Canal de Bertioga dá lugar a amplos jardins, passeios públicos e bancos, tudo iluminado:
Os lindos e impecáveis jardins da Avenida Vicente de Carvalho, em frente a venda de Joao Sabino Abdalla, cuidado pelas funcionárias da Prefeitura de Santos. Na mesma imagem, o histórico “eucalipto”, no centro da avenida.
Avenida Vicente de Carvalho – próximo a praia e ao Forte São João – 1971
A manutenção da Avenida Vicente de Carvalho era rigorosamente mantida pela Prefeitura de Santos – 1985
As margaridas eram as flores que predominavam nos jardins
O Pronto-Socorro - 1972
O Posto Médico inaugurado em 1963 passou por uma reforma em 1972 para se tornar Pronto-Socorro. Essa medida foi autorizada pelo Prefeito de Santos, Ruy Vidal de Araujo, atendendo ao parecer do Secretário Municipal de Higiene e Saúde, o médico Aureo Rodrigues. Foi apenas uma reforma, embora tenham tentado adquirir outro imóvel, optou-se ao final por reformar o que já existia. A casa que abrigou o pronto-socorro, já demolida, ficava onde hoje é o Parque dos Tupiniquins.
O pronto-socorro era destinado ao atendimento da população local e flutuante. Com a reforma, o antigo posto médico passou a contar com sala de espera, consultório clínico, sala de cirurgia, sala de esterilização, almoxarifado, repouso para homens, repouso para mulheres e crianças, dormitórios para médicos e enfermeiros, e sanitários para funcionários, pacientes e acompanhantes. Tinha uma moderna mesa cirúrgica, tubos de oxigênio, material para diagnóstico de tratamento de urgência e três ambulâncias.
Foram adotados regimes de plantão ininterrupto de 24 horas com equipe constituída de médico, enfermeiro e motorista para a ambulância. Para supervisionar os trabalhos foi destacado o médico Luiz Carlos Battu Wichrowski.
A partir do dia 22 de julho de 1972 Bertioga passava a contar com o melhor serviço de atendimento médico já visto. O progresso de Bertioga se fazia iminente, era preciso que os serviços de saúde suportassem o crescimento da população e dos turistas.
Notícia do Jornal A Tribunal de Santos sobre a inauguração do pronto-socorro
O pronto-socorro de 1972
Luiz Carlos Battu Wichrowski e o Secretário Municipal de Higiene e Saúde, Aureo Rodrigues
Escola Prof. Delphino Stockler de Lima – 1972
No dia 15 de agosto de 1972 é inaugurada a Escola pré-primária Prof. Delphino Stockler de Lima, na Rua Manoel da Nóbrega, na Vila Itapanhaú, em Bertioga.
Foi construída no prazo recorde de 120 dias e fazia parte do programa de obras do governo do General Clóvis Bandeira Brasil (Prefeito de Santos).
Foi construída numa área de 7.076 m². Tinha três salas de aula, sanitários e vestiários, piscina de 12×8 metros, e dependências para diretoria, secretaria e professoras, serviços médicos e odontológicos, cozinha e brinquedos, como gangorras, barras de levantamento e uma “casa de boneca”, para aprendizado de socialização. Com capacidade para 240 alunos, estava programada para funcionar em dois períodos. A primeira diretora foi a Professora Maria Antonieta Patti. No ato de inauguração estavam presentes dentre outras autoridades, Clovis Bandeira Brasil e sua esposa Iolanda França Brasil, além da Secretaria de Educação Noêmia Waldomiro Luiz e do Subprefeito Faustino Lopes.
Descerramento da placa de inauguração
Escola Primária Delphino Stockler de Lima
Mais de 20 anos depois da morte do Prof. Delphino, ele foi lembrado pela Prefeitura de Santos para ser homenageado em Bertioga com o nome de um prédio público. Foi uma homenagem merecida. Não foi por acaso.
Delphino Stockler de Lima nasceu em Passos, Minas Gerais, no dia 20 de março de 1873. Sua esposa desde 1905 era Maria Stockler de Araujo. É um dos nomes mais respeitados do ensino público de Santos, foi servidor público da Prefeitura de Santos e começou como Professor titular da disciplina de Matemática no início da década de 1900, tornando-se, posteriormente, Inspetor de Instrução Municipal de 1911 a 1938. Atuou com profunda dedicação nas escolas de Bertioga nas décadas de 1920 e 1930, vindo por diversas vezes à Vila, pela lancha da “Santense” para cumprir o seu compromisso de amor pelo ensino. Carinhoso, educado, reservado, era uma autoridade em Bertioga. Inúmeros estudantes foram avaliados e aprovados sob a supervisão do Professor Delphino conforme comprovam as publicações oficiais da Prefeitura de Santos da época. Foi nomeado como Diretor de Ensino de Santos em 1939. Durante sua gestão, foi iniciada a construção do primeiro prédio público pela Prefeitura de Santos em Bertioga, para abrigar a Escola Isolada Vicente de Carvalho, que existe até hoje, com reformas e adaptações (o espaço é atualmente ocupado pela Casa da Cultura). No dia 20 de março de 1941, dia de seu aniversário de 70 anos, aposentava-se, compulsoriamente. Nesse mesmo dia foi homenageado pelos colegas de trabalho no Paço Municipal da Prefeitura de Santos. Logo após sua aposentadoria, assumiu o cargo de Diretor do colégio particular de Santos “Liceu São Paulo”. Em diversas cerimónias de inauguração ou em eventos especiais em Bertioga ele era o representante oficial do Prefeito de Santos: inauguração do prédio da Colônia de Pescadores onde funcionaria a escola municipal em 1924, inauguração do novo cemitério em 1935, inauguração do prédio provisório da escola municipal em 1937, inauguração da Liga das Senhoras Católicas em 1941. Em Santos, foi fundador da Escola de Comércio José Bonifácio, da Escola da Sociedade União Operária e do Colégio São Paulo. Ele faleceu em 1948, aos 77 anos, em Santos. Pela Lei nº 1.119, de 1950, foi designada como Delphino Stockler de Lima uma rua no Bairro da Vila Belmiro, em Santos. E pelo Decreto nº 3.954, de 1972, o General Clóvis Bandeira Brasil, interventor federal de Santos, reconhecendo o trabalho prestado pelo ilustre Professor, denomina de Delphino Stockler de Lima uma ampla e moderna escola que inaugurava na Vila Itapanhaú, em Bertioga, destinada a educação infantil.
Prof. Delphino Stockler de Lima, na década de 1920.
Na Escola Delphino Stockler de Lima, Arilson Lisboa Sabino com a Professora Norma dos Santos Mazzoni, em 1975.
Na Escola Delphino Stockler de Lima, a útima turma da Professora Norma dos Santos Mazzoni, em 1981, antes de sua aposentadoria.
José Sanches Ferrari é nomeado Administrador Regional - 1974
O engenheiro José Sanches Ferrari tomou posse no cargo de Administrador Regional da Subprefeitura do Distrito de Bertioga em 11 de abril de 1974. Foi uma cerimônia bem concorrida pelas autoridades, realizada em Bertioga. Teve a presença do Prefeito de Santos, Antônio Manoel de Carvalho e de vários vereadores santistas, como Antônio Rubens de Lara e Oswaldo Rossi, que chegaram de barca, atracada no embarcadouro de concreto, para dali seguirem a pé até a subprefeitura, onde diversas faixas saldavam o novo administrador. Permaneceu no cargo até abril de 1977, quando foi substituído por Geraldo Maria da Silva.
José Sanches Ferrari assina o termo de posse, enquanto o Prefeito de Santos.
José Sanches Ferrari (de óculos) e Antônio Manoel de Carvalho (no lado direito da foto), em Bertioga, no dia da posse.
José Sanches Ferrari (na esquerda da foto – agora sem óculos) e Antônio Manoel de Carvalho (no centro da foto), em Bertioga, no dia da posse.
As autoridades estavam em alerta nessa época. A pauta que era defendida nos debates políticos era a necessidade de garantir infraestrutura para Bertioga receber adequada e satisfatoriamente os turistas. Várias obras foram inauguradas na gestão de Antônio Manoel de Carvalho e outras estavam por vir, especialmente em saúde e urbanização.
Usina Nuclear - 1975
Em novembro de 1975, a CESP propôs ao Governo do Estado de São Paulo alguns locais para instalação de uma usina geradora de energia nuclear. Bertioga estava entre esses locais. A intenção é que a usina ocupasse uma área compreendida entre a ponte sobre o Rio Itapanhaú e a foz desse rio no Canal de Bertioga. O Prefeito de Santos, Antônio Manoel de Carvalho, disse que a proposta era inviável. Santos já tinha outros projetos para o local, como a instalação de um entreposto de pesca, escola de pesca e ampliação do cemitério municipal. Defendeu ainda o Prefeito de Santos, mediante ofício à CESP, que Bertioga não possuía previsão em sua legislação urbanística de uso que permitisse atividades nucleares. A usina nunca se concretizou. A proposta da CESP, apesar de absurda atualmente, estava dentro dos planos estratégicos dos governos federal e estadual. Nessa mesma época teve início a construção da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (Angra dos Reis).
A Lei nº 403, de 24 de maio de 1988, aprovada pela Câmara de Santos e sancionada pelo Prefeito Oswaldo Justo, proibiu a instalação de usinas nucleares, no Município de Santos e no Distrito de Bertioga.
Lions Clube de Bertioga - 1976
Em 1976, Fernando Martins Lichti funda o primeiro clube de serviço, o Lions Clube de Bertioga, de cuja fundação foi padrinho o Lions Clube de São Vicente.
O Lions Clube de Bertioga é uma “divisão” do “Lions Clubs International”, que é uma organização internacional de clubes de serviço cujo objetivo é promover o entendimento entre as pessoas, atender causas humanitárias, e promover trabalhos voltados a comunidades locais. A organização foi fundada nos Estados Unidos em 10 de outubro de 1917 por Melvin Jones e se tornou internacional em 1920, quando foi fundado um Lions Club no Canadá. Dentre as ações realizadas pelo grupo estão a construção de hospitais, equipamentos escolares, a criação de workshops para jovens com deficiência física, prestação de ajuda em enchentes, entre outros.
Escudo do Lions Clubs International.