Filme “A Ilha” - 1962

O filme “A Ilha”, gravado em preto e branco em 1962, teve diversas cenas filmadas em Bertioga. Foi produzido pela Kamera Filmes e distribuído pela Cinedistri. O filme é um drama, escrito e dirigido por Walter Hugo Khouri e lançado em 1963 nos cinemas. Os atores, direção e o filme receberam várias premiações no Brasil. No Festival de Cinema de Curitiba realizado em 1964 foi eleito o melhor filme do ano e Luigi Picchi o melhor ator. O músico Rogério Duprat recebeu premiações em diversos festivas pela composição do filme.

O elenco principal contava com Eva Wilma (Helena), Luigi Picchi (Conrado), Elizabeth Hartman (Clara), José Mauro de Vasconcelos (Simão), Ruy Afonso (Neco), Mario Benvenutti (Marcos), Lyris Castellani (Suzana), Laura Verney (Sônia), Mauricio Nabuco (Hugo) e Francisco Negrão, que interpretou César, e com esse personagem recebeu vários prêmios: o Prêmio Saci, em 1963 como melhor ator, o Prêmio Governador do Estado de São Paulo, em 1963, como ator secundário e o Prémio Cidade de São Paulo, em 1963, também como ator secundário.

A sinopse do filme descrevia um milionário que convidava um grupo de amigos para um fim de semana numa ilha onde, dizia uma lenda, havia um tesouro. Uma tempestade leva o barco embora e aquelas pessoas ficam isoladas do mundo. Sem água e comida, os amigos logo começam a mostrar suas verdadeiras personalidades, com mentiras e traições.

Segundo as lembranças de Dulce, filha de João Sabino Abdalla, Eva Wilma ficou algumas vezes na “venda” com os dois filhos, bem pequenos, Vivien e John Herbert, esperando a barquinha chegar para atravessar ao outro lado do Canal de Bertioga, com toda a equipe de filmagem, pois as gravações eram realizadas na Ermida de Santo Antônio do Guaíbe. Além de talentosa, era muito bonita e simpática, e João Sabino Abdalla a chamava de “mocinha”. Eva Wilma fica toda feliz. O elenco e a produção também compraram diversos “tamancos” na “venda”, que naquela época estavam na moda.

Em uma publicação de 2008 para a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, a premiada e respeitada atriz Elizabeth Hartmann revelou detalhes das gravações do filme “A Ilha”:

Numa das idas até o escritório do Abílio para ver como estavam as coisas, ele disse a um homem que estava no seu escritório quando eu entrei: Está aí a atriz para o seu filme. Era o Walter Hugo Khouri, que também estava procurando uma atriz para o seu filme A Ilha. O Khouri, me olhou e disse que eu era um tipo interessante. Ele gostava de tipos nórdicos. Perguntou minha experiência e me pediu umas fotos. Quando me encontrei com ele para entregar as fotos, já me contratou para o filme. Logo depois, houve uma leitura da peça do Abílio na casa do Felipe Carone. O Antunes Filho me chamou num canto e disse que eu não poderia fazer o papel principal, porque eu não era conhecida ainda em São Paulo e que ele precisava de alguém com nome. Que eu ficaria com um papel menor, mas também muito importante. E foi me mostrar o papel. Folheou as páginas da peça e não conseguiu encontrar um diálogo da personagem. Ele ficou todo desconcertado, mas eu disse que ele não se preocupasse, que eu ia fazer o filme do Walter Hugo Khouri. Sinto pena até hoje de não ter trabalhado com o Antunes, pois é um grande diretor. Fui fazer o filme e a peça não saiu, porque, num dos ensaios, na saída, alguns caras estavam esperando os atores e esses apanharam. Ninguém ficou sabendo por quê… Filmamos A Ilha em Bertioga, no litoral do Estado de São Paulo. Fiquei dois meses lá, pois filmar demorava bastante naquela época. Era um ótimo elenco: Eva Wilma, que era a protagonista, apesar de todos os personagens serem interessantes e importantes; Laura Verney, uma atriz italiana que depois voltou para a Itália; Lyris Castellani, que deixou de ser atriz; os homens já morreram todos: Mário Benvenutti, um amor de pessoa; Luigi Picchi, Rui Affonso, José Mauro de Vasconcelos, Francisco Negrão, Maurício Nabuco e o próprio Khouri, que também já faleceu. Depois dos dois meses filmando em Bertioga, filmamos a parte de estúdio na antiga Companhia Vera Cruz, ainda por um mês, e também dublamos o filme, pois o som não era direto. Essa minha primeira experiência com o cinema foi boa e importante. O elenco se dava bem. O Walter Hugo Khouri era uma pessoa estranha. Ele era um diretor extremamente competente, de muito bom gosto, que cuidava muito bem das mulheres, mas tinha o defeito de não criar um clima de harmonia nas filmagens, chegava até a instigar um ator contra o outro. A sorte foi que a gente superou tudo isso e convivemos bem. Em A Ilha, o assistente de direção do Khouri era um jovenzinho de 18 anos, Alfredo Sternheim, que mais tarde também se tornou diretor, com quem eu trabalhei várias vezes e para sempre somos amigos. Um fato curioso aconteceu nas filmagens. Houve uma cena filmada na Praia do Perequê num lugar bem íngreme entre pedras. A nossa câmera era uma Mitchel. O elenco podia se esborrachar nas pedras, mas a câmera não podia ter nenhum arranhão. Descem as atrizes, descem os atores e desce a câmera, a grande vedete. O responsável pela câmera era o senhor Alfonso, um espanhol ainda dos Estúdios Vera Cruz. O cameraman e iluminador era o George Pfister, por sinal, excelente iluminador. Ensaiamos a cena, todo material a postos e… Silêncio, Ação. Fizemos tudo direitinho, o diretor deu ok e lá fomos subir aquilo tudo de novo. Era ator rolando nas pedras, mas a câmera superprotegida, transportada como uma noiva no dia das núpcias. Quando chegamos lá em cima, a equipe percebeu que se esqueceu de colocar o filme na câmera. Resultado, no dia seguinte toda essa operação para filmarmos a cena novamente. Eu dividia o quarto com a Vivinha, que, na época, era casada com o John Herbert e tinha dois filhos pequenos, a Lyris também era casada e eu, na minha lua-de-mel. Tenho a impressão até hoje que minha lua-de-mel incomodou muito o diretor, porque o Apollo ia sempre a Bertioga. Nós estávamos hospedados na colônia do SESC, mas quando meu marido vinha, a gente se hospedava num hotel para não invadir o espaço das filmagens. E o Khouri se incomodava com isso. O Apollo, que também não era uma pessoa contemporizadora, criou um clima de mal-estar com o Khouri. Por pouco, o Khouri não me tirou do filme. Só não me tirou por causa do Luigi Picchi que virou e disse: Khouri, você ontem disse que a Elisabeth seria a nossa Greta Garbo e hoje quer dispensá-la do filme? Lógico que esse Greta Garbo era exagero. A partir disso, o Khouri refletiu e não dispensou. Contudo, esse clima de mal-estar permaneceu para sempre. Nas ocasiões em que encontrei o Khouri ao longo da vida, ora ele fingia que não me via, ora vinha todo carinhoso me beijar e, numa das vezes, disse que nunca mais me convidou para trabalhar com ele porque meu marido era muito chato. O filme foi lançado em 1962. O Khouri sempre teve um ritmo particular nos seus filmes, gostava de algo mais lento, troca de olhares. Era essa a interpretação que ele gostava. Ele também era o roteirista do filme. Por causa desse ritmo mais lento e da interpretação com intenções subjacentes, o filme foi criticado e, conseqüentemente, não teve muito público. Posteriormente, quando o filme foi relançado, e até hoje quando passa no Canal Brasil, na TV Cultura, é considerado belo e tem uma aura de cult, faz sucesso. Eu considero o filme muito bonito e com um clima todo especial. Volto a dizer que, para mim, apesar do incidente relacionado com o meu marido e o Khouri, esse primeiro trabalho no cinema, meu primeiro trabalho profissional em São Paulo, teve um resultado muito satisfatório. Fui indicada ao prêmio Saci como atriz coadjuvante e me senti à vontade com esse veículo, o cinema, onde, mais tarde, trabalhei muito.

 

Reportagem do Jornal A Tribuna de Santos do dia 28 de setembro de 1961 noticiando que em breve seriam iniciadas as gravações do filme “A Ilha”. Na verdade, as filmagens atrasaram, e somente tiveram início no ano seguinte, em 1962. Além disso, a atriz Odete Lara não integrou o elenco do filme.

 

Eva Wilma

Elizabeth Hartmann

 

Lyris Castellani

Luigi Picchi

 

José Mauro de Vasconcelos

Mário Benvenutti

 

Francisco Negrão

Laura Verney

 

Mauricio Nabuco

Ruy Afonso

 

Walter Hugo Khouri, o diretor do filme “A Ilha”.

 

Eva Wilma em filmagem de “A Ilha”, gravado em 1962, lançado em 1963

 

Eva Wilma, em gravação para o filme “A Ilha”.

 

Os protagonistas do filme “A Ilha”, Eva Wilma e Luigi Picchi.

 

O filme “A Ilha”, gravado nas praias de Bertioga, com a estrela da dramaturgia brasileira, Eva Wilma.

 

Lyris Castelani, sentada, à esquerda da foto, Elizabeth Hartmann (loira), ao centro da foto e Eva Wilma, sentada, acendendo um cigarro em uma das cenas do filme “A Ilha”.

 

Laura Verney, em 1962, em cena do filme “A Ilha”.

 

Gravação do filme “A Ilha”, na Praia do Indaiá, em frente a propriedade de José Ermírio de Moraes, com o elenco principal: Eva Wilma, Luigi Picchi (de óculos), Mario Benvenutti (de bermuda), Ruy Afonso (ao fundo, de camisa preta).

 

Gravações do filme “A Ilha”, nos jardins da casa de José Ermírio de Moraes, na Praia do Indaiá, em Bertioga. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

Walter Hugo Khouri, o diretor, ajustando a câmera. Ao seu lado, o assistente de direção, Alfredo Sternheim, com apenas 18 anos. É uma das fotos da gravação do filme “A Ilha”, em 1962, nas ruínas da Ermida de Santo Antônio do Guaíbe, às margens do Canal de Bertioga. É possível identificar o ator Luigi Picchi, de óculos escuro e camisa preta, que fazia parte do elenco principal do filme. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

O diretor do filme “A Ilha”, Walter Hugo Khouri, durante as gravações em Bertioga, em 1962. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

O elenco do filme “A Ilha” na Praia da Enseada, em Bertioga. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

O elenco do filme “A Ilha”, na Praia da Enseada, em Bertioga. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

O elenco do filme “A Ilha”, admirando a tranquilidade do mar. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

A equipe se preparando para as gravações do filme “A Ilha”, na Praia da Enseada, em Bertioga. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

Gravações do filme “A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

“A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

“A Ilha”, em mais uma cena filmada nos jardins da casa de José Ermírio de Moraes, na praia da Enseada, em Bertioga. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

“A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

“A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

O diretor Walter Hugo Khouri, de branco, com a mão sobre o ombro de Eva Wilma, no centro da foto e todo o elenco do filme “A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

 

Cena do filme “A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

Cena do filme “A Ilha”. Arquivo Cinemateca. Jornal Folha de São Paulo.

 

Cartaz divulgando o filme A Ilha, lançado em 1963 nos cinemas brasileiros. Produzido pela Kamera Filmes e distribuído pela Cinedistri. Melhor filme do ano no Festival de Cinema de Curitiba, realizado em 1964.