Fundação do Bertioga Futebol Clube
O Bertioga Futebol Clube, um grande e tradicional representante do futebol de várzea brasileiro, foi fundado em 1920, em Bertioga, no litoral de São Paulo, no mesmo período de diversos outros clubes de futebol, como o Corinthians, o Santos, o Flamengo e o Vasco da Gama.
Sede social e campo do Bertioga Futebol Clube, na Rua da Saudade, nº 593, na Vila Itapanhaú, em Bertioga. Ocupa este endereço desde sua fundação em 1920, em terreno doado por um dos seus fundadores: Aristeu Tavares.
Foi criado com a finalidade de ser um clube esportivo, para recreação dos moradores, com a obrigatoriedade que jogassem futebol. Foram essas as palavras de Luiz Pereira Campos na reunião de fundação do clube.
Consta da ata do Bertioga Futebol Clube que a reunião que aprovou sua fundação foi realizada em 1º de janeiro de 1920. Tendo como seus fundadores Luiz Pereira de Campos, Aristeu Tavares, Moacir Pereira de Campos, Araken Pereira de Campos, Brasilio Estevam de Paula, Pedro Ludgero dos Santos, João Rosendo e Raphael de Arcanjo.
Transcrição realizada em 1964 da Ata de Fundação do Bertioga Futebol Clube de 01/01/1920.
Sócios fundadores do Bertioga Futebol Clube.
O jornal Diário de Santos, de 21 de abril de 1931, noticiou um jogo no campo do Bertioga, entre o time santista Clube Atlético Águia de Ouro e o Bertioga Futebol Clube. Esse jogo foi realizado no dia 19 de abril de 1931, um domingo. O jornal destacou que o campo era belíssimo em seu aspecto e ótimo em seu gramado, todo natural, chão firme e bem nivelado, com medidas oficiais: “um campo estupendo”.
Luiz Pereira Campos (Luiz Pereira de Campos)
Luiz Pereira Campos nasceu em Santos/SP em 18 de julho 1901. Embora a Lei nº 1.536, de 25 de setembro de 1953, do Município de Santos, tenha dado nome a uma das ruas projetadas no Distrito de Bertioga de “Luiz Pereira de Campos”, o nome certo era “Luiz Pereira Campos”, ou seja, sem a preposição “de”, conforme constou de sua certidão de óbito e de publicações fúnebres da família. Acontece que a transcrição da ata de fundação do Bertioga Futebol Clube menciona “Luiz Pereira de Campos”. A confusão acontece porque alguns dos seus ancestrais usavam o sobrenome “de Campos”.
Era filho de Benedito José Pereira (faleceu em 1938) e Maria Teodora Campos Pereira (faleceu em 1928). Benedito José Pereira era um dos mais importantes e tradicionais intermediários de negócios comerciais de Santos. Em publicação do jornal A Tribuna de Santos, do ano de 1917, Benedito José Pereira aparece como proprietário de terrenos em Bertioga e na Praia do Itaguaré.
Quando fundou o Bertioga Futebol Clube, Luiz Pereira Campos tinha 19 anos. Ele era conhecido como Lulú, mas alguns amigos também o chamavam de “Lu”. Seus irmãos eram Pedro Pereira Campos, Moacyr Pereira Campos, Araken Pereira Campos, Ari Pereira Campos, Andira Pereira Campos, Potiguara Pereira Campos, Irapuan Pereira Campos e Cecília Toledo Campos.
Em 1921 se tornou sócio da Associação Atlética Portuguesa. Foi “secretário” da Bolsa Oficial de Café de Santos. Depois assumiu o cargo de “fiel” do Armazém 11 da Companhia Docas de Santos. Fiel de armazém é o profissional responsável por administrar e guardar mercadorias depositadas em armazéns gerais, garantindo a segurança e a integridade desses bens até que sejam retirados pelos proprietários ou destinatários. O fiel de armazém é legalmente responsável por qualquer dano, perda ou deterioração das mercadorias sob sua custódia, salvo nos casos de força maior ou vício próprio da mercadoria.
Documentos históricos e oficiais da Câmara Municipal de Santos indicam que Luiz Pereira Campos trabalhou muito pela assistência moral e material dos moradores da praia de São Lourenço, sendo atribuída a ele a instalação da rede de água encanada no bairro e a construção da primeira escola de São Lourenço, em terreno doado pela família “Pinto” em 1947. Luiz Pereira Campos era conhecido pela sua generosidade.
Faleceu em Santos/SP, na sua residência na Rua da Constituição, nº 254, em 7 de junho de 1949. Foi sepultado no Cemitério do Paquetá. Segundo a Câmara Municipal de Santos a morte foi em razão de um acidente de trabalho nas Docas. Na certidão de óbito constam problemas cardíacos. Luiz Pereira Campos foi casado com Leontina Martins Campos. Embora tenha constado da certidão de óbito que o casal não tinha filhos, na verdade, eles tinham duas filhas adotivas: Carminha e Betinha.
Moacyr Pereira Campos e Araken Pereira Campos
Moacyr Pereira Campos e Araken Pereira Campos eram irmãos de Luiz Pereira Campos, todos muito jovens. Das poucas informações que conseguimos levantar sobre eles, sabemos que Moacyr Pereira Campos nasceu em 1903 e faleceu em 4 de outubro de 1972, em Santos/SP. Ele tinha apenas 16 anos quando participou da fundação do Bertioga Futebol Clube. Moacyr Pereira Campos foi Auxiliar do Ambulatório “Gaffrée- Guinle”, localizado na Praça da República, nº 18, em Santos/SP, de propriedade da Companhia Docas de Santos, que prestava serviços médicos nas áreas de urologia e ginecologia. Casou-se em Santos/SP com Julia Rodrigues da Silva em 1924 e tiveram dois filhos: Moacyr Pereira Campos Filho e Jucyr Pereira Campos.
Araken Pereira Campos foi casado com Nicéa Luiz Campos (filha de Norberto Luiz e irmã de Norberto Luiz Junior, agricultores e proprietários de terras em Bertioga). Araken Pereira Campos foi Guarda-livros (Contador) da Companhia Comercial e Marítima.
Aristeu Tavares
Aristeu Tavares, segundo nome na ata, era o único filho de Joaquim Tavares e Maria do Carmo Pinto de Campos Tavares. O seu pai havia adquirido em Bertioga, no ano de 1918, uma grande propriedade, a chamada Vila Carmem, da “Irmandade dos Carmelitas Fluminense”, englobando, inclusive, o terreno onde foi instalado o Bertioga Futebol Clube. Joaquim Tavares trabalhava com o comércio de pescados, construiu algumas casas na Vila que chamava de benfeitorias e um armazém destinado ao depósito de mercadorias e comida para suprir os pescadores vinculados a ele. Joaquim Tavares faleceu em 1929.
Aristeu Tavares nasceu em Santos/SP no dia 25 de setembro de 1903. Entre os anos de 1911 e 1913 Aristeu Tavares estudou na Escola Mixta de Bertioga, mantida pela Prefeitura de Santos, que depois viria a receber o nome de Escola Isolada Vicente de Carvalho. Em 1917 Aristeu Tavares já estudava em Santos. Chamado de “Teteu” pelos amigos, foi aluno do Ginásio Santista. Aristeu Tavares foi auxiliar da Companhia Docas de Santos, além de administrador dos negócios herdados do pai. Também foi auxiliar da Sociedade Urbanística de Bertioga. Aristeu Tavares era primo de Luiz Pereira de Campos, Moacyr Pereira de Campos e Araken Pereira de Campos. A mãe deles, Theodora de Campos, era irmã da mãe de Aristeu Tavares (Maria do Carmo Pinto de Campos Tavares). Também eram primos de Nestor Pinto Florêncio de Campos.
Era casado com Elisa Lopes Tavares. Aristeu Tavares faleceu em Santos/SP no dia 6 de novembro de 1939, com apenas 36 anos, vítima de tuberculose. Quando faleceu, deixou três filhas: Maria do Carmo com 12 anos, Maria José com 7 anos e Maria Violante com 5 anos. O casal também teve dois meninos que faleceram recém-nascidos: José e depois Aristeu.
Pedro Ludgero dos Santos
Pedro Ludgero dos Santos nasceu em Bertioga/SP entre 1906/1907 e faleceu em 5 de maio de 1933, com apenas 26 anos. Era filho de Tancredo Prudente e Joana Faustina Santos. O pai trabalhou para a Companhia Docas de Santos na construção da Usina Hidrelétrica de Itatinga, inclusive sofreu um acidente de trabalho em 1904 na construção de uma ponte na Fazenda Pilões (Pilar). Ele foi atendido na Santa Casa de Santos com ferimentos leves, mas dois colegas de trabalho faleceram.
Ainda em 1904, alguns meses após esse acidente, os pais de Pedro Ludgero dos Santos se casaram. Eles residiam em um imóvel localizado na Rua da Saudade desde os anos 1900. Tancredo Prudente faleceu em 1942, e foi sepultado no Cemitério de Bertioga.
Pedro Ludgero dos Santos era irmão de Mario Prudente dos Santos, que era casado com Adelaide Andrade dos Santos. Parte das terras da família foi desapropriada em 1972 pela Prefeitura de Santos para abertura da Avenida Anchieta (uma grande área hoje compreendida entre o Fórum e o Banco Itaú).
Conseguimos levantar algumas informações sobre Pedro Ludgero dos Santos: a) em 1913 ele estudava na “Escola Mixta de Bertioga” (que depois se tornou Escola Municipal Vicente de Carvalho); b) quando participou da fundação do Bertioga Futebol Clube deveria ter somente 13 anos; c) nos anos de 1926 e 1927 ele fazia parte do time principal do Bertioga Futebol Clube, mas também jogava em outros times de várzea de Santos/SP; d) era chamado de “Ludgero” pelos colegas; e) era Auxiliar da Polícia Marítima lotado em Santos/SP; f) era casado com Engracia Aurora Andrade Santos e eles não tiveram filhos; g) faleceu em Santos/SP, em razão de problemas renais e foi enterrado no Cemitério do Saboó no dia seguinte, 6 de maio de 1933.
Brasilio Estevam de Paula
Brasilio Estevam de Paula nasceu em Bertioga/SP em 1905 e faleceu no dia 9 de julho de 1943, aos 38 anos, no Guarujá/SP, de tuberculose, deixando quatro filhos. Tinha 14 anos quando participou da fundação do Bertioga Futebol Clube. Era filho de João Estevam de Paula, comerciante e agricultor, falecido em 1946. Era irmão de Nair Estevam de Paula, Marina Estevam de Paula e Manoel Estevam de Paula (Maneco Criolo).
Em uma entrevista concedida ao Jornal da Baixada em 2003, Nair lembrou carinhosamente do irmão, afirmando que juntos compuseram um hino para a Vila de Bertioga:
Somos de Bertioga defensores
Andamos pela avenida colhendo amores
Neste dia de alegria, de manhã primaveril
Saudamos com alegria o Brasil
O povo de Bertioga envia essa canção
Saudando os vitoriosos desta nação
Viva Bertioga e seus defensores
João Rosendo
João Rosendo nasceu em 5 de outubro de 1905, em Santos/SP e faleceu no dia 19 de fevereiro de 1976, também em Santos/SP. Era filho de Rosendo Benedicto dos Santos e Cândida Valentina dos Santos (Dona Candinha). Casado com Júlia Wander Haagen Rosendo, teve os seguintes filhos: Daisi, casada com Joacir Francisco; Dea, casada com Nelson Datoguea; Darcy, casada com Manoel Augusto Pereira; Deo, casado com Maria Alice Rodrigues Rozendo; e Dulce, solteira.
João Rosendo era tio avô de Hugo e Leonardo, filhos de Pinguim (servidor público, dedicado motorista de ambulância do Pronto Socorro de Bertioga nas décadas de 1960, 1970 e 1980). Também tinha parentesco, entre outros, com Zé Albino, João Loló, Emília.
Raphael de Arcanjo
Raphael de Arcanjo talvez seja Rafael Arcanjo do Nascimento. Rafael ia todo dia na venda do meu avô, João Sabino Abdalla. Se eu soubesse disso, eu mesmo perguntaria a ele já que estávamos juntos quase todos os dias no início dos anos 1990.
Daniel Lisboa, meu tio, um dos diretores na época da transcrição da ata, em 1964, me disse recentemente que Raphael de Arcanjo é Rafael Arcanjo do Nascimento.
Ele gostava de conversar com o meu irmão Arilson, e com Fábio Mazzoni, que brincavam o tempo inteiro com ele. Embora fossem bem mais jovens do que Rafael, tratavam ele com respeito, admiração, alegria e falando muita besteira. Elizabete Bittencourt Abdalla o chamava carinhosamente de Rafinha. Ele não gostava de ver meu pai dando entrevistas para falar da história de Bertioga, dizia “não conta nada”. João Sabino Filho, meu pai, frequentemente, conversava com Rafael lembrando e brincando da juventude, dos bailes de carnaval e das namoradas.
Chapéu de palha, o cachimbo com fumo “arapiraca”, um senhorzinho simpático, foram os últimos anos de Rafael, e quantas histórias ficaram para trás.
Rafael Arcanjo do Nascimento nasceu em 1905, em Bertioga/SP. Foi casado com Josefina. Ele teria 14 anos na data de fundação do Bertioga Futebol Clube. Em entrevista concedida ao jornal “Costa Norte” em 2007, quando Rafael já estava com 102 anos, com poucas lembranças, as filhas Isabel e Ruth contaram que ele trabalhou como marinheiro da Companhia Santense de Navegação.
Do quadro de fundadores do Bertioga Futebol Clube, Rafael Arcanjo do Nascimento é o único que permaneceu morando em Bertioga e que tem vários descendentes na cidade. Os demais foram embora para Santos e o parentesco que deixaram em Bertioga é de primos das famílias de Nestor Pinto Florêncio de Campos, João Estevam de Paula e Rosendo Benedicto dos Santos.
Homens negros e homens brancos
É possível afirmar que Brasilio Estevam de Paula e Rafael Arcanjo do Nascimento eram jovens negros. Nessa época, o futebol era dominado pela aristocracia. No Brasil, a população de baixa renda e os negros somente podiam assistir aos jogos. Apenas em meados da década de 1920 os negros foram aceitos entre os jogadores de futebol. É bem simbólico e representativo saber que o Bertioga Futebol Clube foi fundado por homens negros e brancos. Mas não somente isso, o próprio time possuía no elenco principal os fundadores Brasílio e Raphael.
Publicação de 08 de janeiro de 1927, do Jornal A Praça de Santos. Registro histórico da atuação do Bertioga Futebol Clube, do time de jogadores, alguns deles fundadores do clube: Luiz Pereira Campos (Lulu), Aristeu Tavares (Teteu), Pedro Ludgero dos Santos, Raphael Arcanjo do Nascimento, Brasílio Estevam de Paula, João Rosendo. O time do Bertioga Futebol Clube enfrentaria o C. A. Chantecler. O primeiro quadro do Bertioga Futebol Clube era formado por Lacerda (goleiro), Raphael, Brasílio, Xandico, Campos, Pedro, Almofadinha, Dicto, Mendes e Teteu, Rosendo (capitão), tendo como reservas Honório e Paulino. O segundo quadro era formado por Luiz (goleiro), Jayme, Nestor, Baptista, Lulu, Olegário, Hilário, Zezinho, Ramiro, Durvalino e Alcides, tendo como reservas Romão, Corrêa e Vicente.
Os primeiros anos
O Bertioga é fundado em 1920, em um período em que o futebol passava por grande transformação na sua organização, pois deixava de ser um esporte exclusivo da elite para também os operários e os mais pobres dele participarem como sócios ou atletas. É nessa mesma época que alguns clubes recém-formados profissionalizam-se, mas o Bertioga mantém suas raízes como o time da comunidade da Vila de Bertioga.
Para formar um time de futebol, seria preciso mais do que sete pessoas. Na década de 1920 eram poucas famílias antigas morando em Bertioga. Sequer existia a “ponte de atracação”, a primeira escola e a “venda” de João Sabino Abdalla. Mas é totalmente provável que os jovens imigrantes libaneses, todos com cerca de vinte anos de idade nessa época, e outros jovens moradores, tivessem participado da reunião ou da iniciativa de fundação do Bertioga Futebol Clube.
Por isso, é relevante destacar, que além desses registros oficiais, o site “giginarede” indica que foi fundado por iniciativa de Norberto Luiz, Benedito Pereira, Joaquim Tavares, João Cesário Bichir, Miguel Bichir, José Epifânio, João Antonio dos Santos, Manuel Antonio dos Santos, Andrelino Piloto, João Lourenço, Sebastião Hermeto do Nascimento, Sebastião Alexandre, João Estevão, Raul Augusto e Augusto Florêncio.
A Federação Paulista de Futebol informou, oficialmente, que não possui registros do Bertioga Futebol Clube, uma situação que merece ser corrigida diante da relevância que esse clube de várzea tem para a cidade de Bertioga, sua comunidade e a história.
“Dito Botinha” (também conhecido como Dito Salsicha), nascido em 1941, que jogou no Bertioga desde os seus 16 anos (década de 1950) e “Elizabete Bittencourt Abdalla”, filha de Waldemar, jogador do Bertioga na década de 1940, afirmaram que “Sebastião Xaxá” foi o primeiro diretor do Bertioga, atuando como administrador do clube recém-fundado. Sebastião Xaxá foi mestre da Companhia Santense de Navegação.
Nos primeiros anos de fundação do Bertioga Futebol Clube, as atividades desenvolvidas eram práticas esportivas ou recreativas, incluindo futebol, com a participação dos poucos moradores da Vila. O campo do Bertioga Futebol Clube tornava-se a primeira área de lazer da Vila, compondo um dos elementos fundamentais para o adequado planejamento urbano e ocupação do solo.
É interessante lembrar que nessa época o único acesso até Bertioga era através de embarcações que partiam do Porto de Santos em direção a Bertioga, e por isso mesmo, estava a Vila isolada dos demais centros urbanos. Não existiam outros times para competir.
O Itatinga Atlético Clube é fundado em 07 de setembro de 1928 e a Associação Atlética 03 de Maio (Prainha) é fundada em 03 de maio de 1930. É a partir de então que o Bertioga Futebol Clube passa a contar com verdadeiros times adversários, organizados e que igualmente marcam a história da Vila. Não é novidade que os primeiros clubes de futebol tenham sido o Bertioga, o Itatinga e o 03 de Maio (Prainha), pois segundo o Recenseamento de 1920 eram essas Vilas os únicos locais habitados, sendo que a Prainha tinha uma população maior do que Bertioga no início do século passado.
O Itatinga, criado em função da Usina Hidrelétrica de Itatinga e dos moradores que ali trabalhavam, e o 03 de Maio (Prainha), mesmo antes de serem oficialmente fundados, possivelmente disputaram suas primeiras partidas com o Bertioga.
Em 1930, é realizada a primeira Copa do Mundo. No Brasil, o futebol profissionaliza-se em 1933 e torna-se popular rapidamente, passando a ser o esporte preferido do brasileiro já naquela época. Nesse contexto, a partir da década de 1940, os filhos dos antigos moradores aparecem entre os atletas do time de futebol, como Waldemar Abdalla (Filho de João Sabino Abdalla), Roberto Bichir e Seiad Bichir (filhos de Miguel Bichir), além de outros jovens recém-chegados à cidade.
Mais tarde, entra para o rol de grandes times adversários o Indaiá Futebol Clube, fundado em 21 de abril de 1946, e o São Lourenço Futebol Clube, fundado em 03 de novembro de 1947. Na década de 1960, o Grêmio Esportivo Caiçara (01/05/1963) e o Esporte Clube Rio da Praia (10/04/1964) completam a história das primeiras décadas de competições de futebol em Bertioga.
O Bertioga Futebol Clube assistiu diversas gerações de jogadores. Assim como todo time de futebol, teve bons e maus momentos, na atuação em campo ou na gestão do clube.
Campo do Bertioga Futebol Clube em 1955 – visão a partir da Rua da Saudade.
Campo do Bertioga Futebol Clube em 1955.
Excursões e atividades recreativas
Ao longo dos cem anos de história foram diversas as excursões organizadas por associações de lazer, recreação ou clubes de futebol para amistosos e passeios divertidos no campo e na sede social do Bertioga Futebol Clube. Em nossas pesquisas, conseguimos levantar alguns registros sobre esse pedaço da nossa história.
Em 1931 o recém-fundado time do Clube Atlético Águia de Ouro, de Santos, fez excursão até Bertioga para um confronto com o time local. Era chamado de “A rainha dos Andes”. Vieram à Bertioga dois quadros do time, além de uma grande torcida, em parte formada por mulheres. A imprensa santista deu grande visibilidade a isso. Foram dois jogos e o Bertioga Futebol Clube perdeu os dois. O primeiro jogo por 2×1, e o segundo jogo, o principal, por 1×0. No principal jogo, a imprensa santista deu destaque a atuação de Rafael Arcanjo do Nascimento como zagueiro.
A Sociedade dos Amigos de Bertioga – SAB divulgava a Vila de Bertioga em São Paulo, em jornais, rádios e panfletos. Eram organizadas caravanas para banhos de mar, piqueniques, peixadas e atividades recreativas. As refeições eram realizadas na Granja Tupi, e depois na Granja Zilá, de Armando Lichti, ao lado do Forte São João, onde hoje é o Parque dos Tupiniquins. O campo do Bertioga Futebol Clube era alugado pela Sociedade dos Amigos de Bertioga para a realização de jogos de futebol e gincanas. Eram grupos de famílias, clubes de tiro, clubes de cavalo, clubes de fotografia, que buscavam uma atividade alternativa, na tranquilidade das praias e da Vila de Bertioga, que ficou famosa e o Bertioga Futebol Clube fazia parte desse pacote de passeio ou roteiro turístico.
Foi assim que no 23 de setembro de 1946, o Telefônica Atlético Clube de São Paulo visita o Bertioga Futebol Clube, para uma tarde de diversas atividades esportivas, com almoço no Forte São João, como demonstram as fotos abaixo, que pertencem ao acervo histórico do Arquivo Nacional.
23 de setembro de 1946
Telefônica Atlético Clube de São Paulo – campo do Bertioga Futebol Clube.
23 de setembro de 1946, o Telefônica Atlético Clube de São Paulo chegando em Bertioga pela barca da Companhia Santense de Navegação.
No dia 30 de janeiro de 1972 o time do “Esporte Clube João Pessoa”, do Distrito de Vicente de Carvalho, no Guarujá, viajou até Bertioga para um confronto com o Bertioga Futebol Clube. No dia 23 de março de 1973 veio até Bertioga o time do SMTC enfrentar o Bertioga.
No dia 18 de abril de 1976 a Associação Beneficente e Recreativa dos Empregados da Santa Casa de Santos realizou uma excursão até Bertioga, levando dois times de futebol, primeiro e segundo quadros, para enfrentar o Bertioga Futebol Clube. Houve festa também, tudo promovido na sede do Bertioga Futebol Clube, com “chopada” e distribuição de ovos de Páscoa às crianças.
Em 13 de março de 1977 o Bertioga enfrentou em seu campo a equipe do Rubronegro Futebol Clube, do Distrito de Vicente de Carvalho, no Guarujá.
As cores azul e branco
Em 1º de janeiro de 1920, na reunião que criou o Bertioga, já foram definidas que as cores do clube seriam azuis e brancas. O Santos, quando foi criado, também tinha adotado as cores azul e branco, além de dourado, mas como o custo era alto na época para confecção de peças coloridas, logo as cores do Santos passaram para preto e branco, mas o Bertioga sempre manteve as cores originais, azul e branco.
O escudo
Não é só o Bertioga e o Indaiá que possuem escudos parecidos com o do Santos. Isso também acontece com o Ituano e o Capivariano. Na verdade, nem o Santos é o autor desse formato ou contorno de escudo, já criado e usado há algumas centenas de anos. Porém, os detalhes internos das listras e da bola de futebol desenhada são idênticos ao do Santos, porque o escudo do Bertioga e do Indaiá foram concebidos em homenagem ao famoso time santista. O escudo santista foi criado em 1925 e somente usado pelo Santos a partir de 1927, mas foi somente na década de 1940 que os escudos foram inseridos nas camisas oficiais.
O escudo do Bertioga foi desenhado em 1942, na gestão de Henrique Costábile como seu presidente. Em foto de 1947, o time do Bertioga já aparece usando nas camisas o escudo.
Escudo do Bertioga Futebol Clube.
O manto sagrado do Bertioga
Desde sua fundação o Bertioga já adotou as cores azul e branco e definiu seu uniforme, tendo os jogadores de linha camisa azul e calção branco e o goleiro camisa e calção branco.
Camisa comemorativa ao centenário do Bertioga Futebol Clube.
Registro do Bertioga Futebol Clube
Seus documentos foram levados a registro em 1964, por iniciativa de Oriowaldo Camargo, então Presidente, e da diretoria composta por Epiphanio Batista, José Batista, Ademar Batista, Alcides Alexandre do Amparo Filho, Daniel Lisboa e Adherbal Alves.
Orivaldo Camargo nasceu em 1921 e faleceu no dia 2 de abril de 1994, em Santos, aos 73 anos. Casado com Maria Gracinda Ribeiro Camargo. Seus filhos: José, André, Luciano e Rosa Maria.
O presidente do Bertioga Futebol Clube, Oriowaldo Camargo (sentado, de chapéu) e João Sabino Abdalla encostado no balcão da venda.
A sede social do Bertioga
A sede social do Bertioga Futebol Clube possuía também um bar, que ocupava o mesmo espaço. As primeiras instalações eram de madeira, barracões destinados a guardar os equipamentos usados nos jogos, tal como redes e bolas, estruturas erguidas com os recursos de Luiz Pereira Campos e Aristeu Tavares no início dos anos de 1920.
A casa de alvenaria surge apenas na década de 1950, bem simples, formada por um salão e um banheiro, com um espaço para o bar. Foram muitas adaptações ao longo das mais diversas políticas de gestão.
Em 1967, sob a presidência de Rubens de Moura Leite, foram inauguradas as novas dependências da sede social. A diretoria estava composta por Licurgo Mazzoni (1º vice-presidente), Ademar Batista (2º vice-presidente), Valdelirio Albino Moreira (1º tesoureiro), Gentil Purita (2º tesoureiro), João Donato Amorim (secretário geral), Manoel Gonçalves (1º secretário), Deolindo Fernandes Lisboa Filho (2º secretário), Odair Rosa Barbosa (1º diretor de esportes) e Almo José dos Santos (2º diretor de esportes).
A sede social em alguns períodos foi alugada a terceiros, aplicando-se duas formas diferentes de uso do imóvel: a) teve época que a sede inteira foi alugada, precisando até mesmo de propositura de ação judicial para retomada do imóvel; b) em outros tempos, com muita frequência, a sede era alugada para eventos, destinados as mais diversas finalidades: baile de carnaval, baile do Havaí, baile de formatura, churrascada, chopada.
O bar do Bertioga Futebol Clube, na década de 1970. É um cenário decadente. Dentre os clientes identificados, alguns ex-atletas: Jonjoca, Antonio Barbeiro, Miltão, João Sabino Filho, Adilson Alves, Diabo Loiro. Acervo de João Sabino Filho.
I Jogos Esportivos do SESC (1955)
Em setembro de 1955, em comemoração a Semana da Pátria, a Colônia de Férias do SESC realizou o “I Jogos Esportivos do SESC”, que contou com a participação do Bertioga, além de times de outras cidades, como o Campinas, o Marília e até o vitorioso time do Santos.
Torneio Esportivo de Futebol (1976)
Nos dias 2 e 9 de janeiro de 1976 o Bertioga Futebol Clube organizou o Torneio Esportivo de Futebol, em comemoração ao seu 57º aniversário. a competição reuniu clubes amadores de Mairinque, Guarujá, São Paulo e Bertioga. Os troféus e premiações são oferecidos por Licurgo Mazzoni, José Batista e Rubens de Moura Leite.
Torneio Roberto Bichir (1982)
Em 1982 foi realizado pelo Bertioga Futebol Clube o Torneio Roberto Bichir, em homenagem ao saudoso veterano do clube, tendo como principal convidado o Cruzeiro, de Poá, que realizou o jogo de honra com o Bertioga Futebol Clube no dia 07 de setembro.
Epiphânio Batista
Em 1971 a Prefeitura de Santos nomeou uma das ruas de Bertioga como Epiphânio Batista, em homenagem ao antigo negociante, que foi presidente da Colônia de Pescadores e teve uma destacada atuação na presidência do Bertioga Futebol Clube. Conhecido popularmente como “Faninho”. Nasceu em Bertioga em 15 de junho de 1912. Era filho de Amâncio Gustavo Batista e Augusta Francisca Batista. No Recenseamento de 1920 a família Batista já estava indicada como proprietária de terras rurais na Vila. Moradores históricos e vários dos seus descentes foram presidentes, diretores e jogadores do Bertioga Futebol Clube.
Epiphânio Batista (Faninho) e Waldemar Bittencourt Abdalla. É uma foto que talvez seja de 1949. Faninho nasceu em 1912 e estaria com 37 anos e Waldemar nasceu em 1921 e estaria com 28 anos. Eles estão em frente a ponte de atracação (Pier Licurgo Mazzoni), sentados em um barranco onde hoje são jardins. É possível ver ao fundo uma das lanchas da Santense. Cópia no acervo da família Sabino Abdalla.
Os times do Bertioga
Através dos acervos de João Sabino Abdalla e da família de Miguel Bichir, além de cuidadoso trabalho de restauração, apresentamos os esquadrões históricos do Bertioga Futebol Clube ao longo das gerações:
Foto original do álbum da família Sabino Abdalla. O histórico time de 1947 do Bertioga Futebol Clube. Em pé: Nelson da Prainha, Dito, Mario, Alcides, Zequinha, Maneco Bode, Lourival. Agachados: Vava, Waldemar Abdalla, Elias Albino, Roberto Bichir, Seiad Bichir e o goleiro Loripe, com camisa branca. Foto publicada no Jornal A Tribuna de Santos.
Time de 1953 do Bertioga Futebol Clube com a presença ilustre de Gilmar, bicampeão mundial pela seleção brasileira como goleiro em 1958 e 1962. Em pé: Roberto Bichir, Tane, Max, a madrinha Jamile Bichir, o goleiro Abelardo, Gilmar, Silvio Rodrigues, Maneco Criolo. Agachados: Maneco Assis, Cidinho, Alcides, Maneco Bode e Enock.
Time de 1954 do Bertioga Futebol Clube. Em pé: Vadico, Alcides, Roberto Bichir, Maneco Assis, o goleiro Marino Pica Pau, Haroldo. Agachados: Epifânio, Abelardo, Cidinho, Ivo e Enock.
Time de 1957 do Bertioga Futebol Clube.
Time de 1959 do Bertioga Futebol Clube.
Time de 1961 do Bertioga Futebol Clube.
Time de 1964 do Bertioga Futebol Clube.
Time de 1969 do Bertioga Futebol Clube.
Time de Veteranos do Bertioga Futebol Clube – 1979.
Primeira madrinha do Bertioga
Jamile Bichir Canoilas, filha do precursor Miguel Seiad Bichir, foi a primeira madrinha do Bertioga Futebol Clube, mas nessa época, os pais não deixavam as filhas irem sozinhas ao campo do Bertioga, contou Jamile Bichir, em entrevista ao Jornal Costa Norte. Os irmãos Roberto Bichir e Seiad Bichir, atletas do Bertioga F. C., estavam sempre ao lado da irmã.
Jamile Bichir Canoilas, em Festival de 1953, com os times: Bertioga F. C. e Municipal.
Jamile Bichir Canoilas, primeira madrinha do Bertioga F. C.
Grandes atletas do Bertioga
Nas décadas de 1940, 1950 e 1960 destacaram-se, como grandes jogadores do Bertioga Futebol Clube, entre outros:
- Roberto Bichir.
- Seiad Bichir.
- Waldemar Abdalla (Sabino).
- Enoch Xavier.
- Ademar Batista.
- José Batista.
- Dito Botinha (Salsicha).
- Láis Bittencourt Abdalla.
- Miltão.
- João Sabino Filho.
- Daniel Lisboa.
- Marino Pica Pau.
- Maneco Criolo.
Dito Botinha (Dito Salsicha), o primeiro da direta para a esquerda, além de outros notáveis atletas do Bertioga. Nascido em 1941, Dito é jogador do Bertioga desde os seus 16 anos. É um dos grandes clientes da venda de João Sabino Abdalla.
Fotos Antigas
Muitas fotos antigas estão na coleção da família Sabino Abdalla. Algumas foram restauradas para posterior identificação, como as fotografias abaixo.
Foto original do álbum da família Sabino Abdalla. Não foi possível identificar o time, a data e os jogadores.
Foto original do álbum da família Sabino Abdalla. Não foi possível identificar o time, a data e os jogadores.