A terceira fortaleza: construída por ordem do Rei de Portugal – 1557/1560
Dom João III, Rei de Portugal, de 1521 a 1557.
Embora a moeda oficial de Portugal fosse o “real”, nas transações comerciais da Coroa Portuguesa com outras nações a moeda aceita era o “cruzado de ouro”, moeda comemorativa, que se tornou forte e respeitada. No tempo do Rei Dom João III, cada moeda de “cruzado de ouro” equivalia a 400 “reais” (moeda oficial de Portugal). A moeda era cunhada toda em ouro e pesava quase um grama.
Com grandes divergências entre os autores, a construção foi concluída total ou parcialmente em 1560, recebendo o nome de Forte São Thiago (Forte São João), em homenagem a Capela de São Thiago, anexa ao prédio do quartel. Nessa mesma época, são erguidos o Forte São Felipe (Forte São Luís) e a Capela de Santo Antônio do Guaíbe, na Ilha de Santo Amaro.
Sem mencionar o nome de São Thiago, o Padre Fernão Cardim, acompanhando em 1585 o Padre Christovão Gouvêa à São Vicente, narra a existência de uma estrutura em Bertioga. Disse ele: a fortaleza é coisa formosa, parece-se ao longe com a Torre de Belém e tem outra menor de fronte (Forte São Felipe), e ambas se ajudavam uma à outra no tempo das guerras.
A fortaleza de 1531, chamada de “Torre da Bertioga”, por Frei Gaspar da Madre de Deus, e a fortaleza de 1547, indicada como sendo uma “paliçada com a casa forte ao centro”, conforme relatou Hans Staden, não possuíam uma denominação. Não há nenhum registro histórico sobre isso.
A denominação São Thiago surge a partir da fortaleza de alvenaria, erguida conforme Provisão Régia de Dom João III. No entanto, esse documento oficial não citava o nome que seria atribuído a nova fortaleza.
No “Translado da Nomeação” do Padre Fernão Luiz Carapeto para a Vila de Bertioga, de 22 de dezembro de 1555, consta a sua designação para a “Vigairaria de Santigo da Britioga”. Estava se referindo a Capela de São Thiago, parte integrante do quartel da fortaleza. Os historiadores apresentam datas divergentes, mas presume-se que mesmo antes da conclusão das obras da fortaleza, em 1560, construída por ordem do Rei de Portugal, já se atribuía o nome de São Thiago a sua capela.
Pela ausência de documentos oficiais, é provável que a partir da denominação da capela é que a fortaleza passou a ser chamada de São Thiago.
Um dos registros históricos mais antigos da fortaleza é o “Mapa de São Vicente”, de Luis Teixeira, de 1574, indicando a existência do Forte São Thiago (Forte São João) ou, como denomina, “Fortaleza de S. Thiago”:
Mapa de São Vicente, de Luis Teixeira, de 1574. Detalhe para a Fortaleza de S. Thiago (Forte São Thiago/Forte São João).
Forte São João em detalhes: as cortinas, a plataforma de armas/terrapleno, o quartel (museu) e a tenalha (muro de pedras).
O Forte São Thiago (Forte São João) é formado por duas estruturas principais:
a) o terrapleno, também chamado de plataforma de armas ou baluarte, é a estrutura retangular de pedras, armada com canhões, e com as duas guaritas;
b) o quartel (atual Museu João Ramalho), é uma casa com paredes de pedra e cal, e com telhado de cerâmica, que servia como alojamento para os soldados, para o armazenamento da pólvora e demais instrumentos de artilharia, além de contar com a Capela de São Thiago.
O terrapleno possuía uma estrutura central retangular de pedras e era revestido por uma parede também de pedras, chamada de “cortina”, com aproximadamente 50 centímetros de largura. A “cortina” era coberta por uma parede caiada, de no máximo cinco centímetros, preparada originalmente a partir da “cal de sambaqui”.
O telhado do quartel era de “duas águas”, diverso do telhado atual, que possivelmente após uma reforma no século XVIII passou a ser de “quatro águas”.
Além disso, na fortaleza construída em 1560, não existia a “tenalha”, isto é, o muro de pedras ao redor do quartel, em formato de “rabo de peixe”, que somente foi incluído em reforma posterior.
A planta acima demonstra a ampliação do Forte. Não indica sua demolição ou reconstrução. É possível que existam partes do Forte São João que sejam originais, especialmente a matéria-prima e parte das rochas que seriam, naturalmente, reaproveitadas em uma reconstrução. Já o prédio do quartel (onde atualmente é o Museu João Ramalho), não houve modificação na planta original, mas em razão de muitas reformas, somete uma de suas paredes conserva a estrutura original do século XVI.
Uma interpretação possível de como deveria ser a estrutura original, construída por ordem do Rei de Portugal, é que seria muito semelhante a fortaleza atual, no mesmo local e formato, com duas guaritas, revestido o terrapleno com uma parede caiada, com três principais diferenças: a) o terrapleno ou plataforma de armas era menor, com apenas 100m², menos da metade do tamanho atual; b) o telhado do quartel era de “duas águas”, mas o prédio deveria ser do mesmo tamanho do atual; c) não existia a tenalha (muro de pedras em formato de rabo de peixe, no entorno do quartel).
Segundo o artigo “Aspectos geológicos, históricos e estado de conservação das fortificações da Baixada Santista”, de autoria de Vanessa Costa Mucivuna, Eliane Aparecida Del Lama e Maria da Glória Motta Garcia, publicado na Revista do Instituto Geológico da USP, atualmente, pouco resta da construção original de 1560 (século XVI), que era feita essencialmente de pedras. Apenas a escada que dá acesso à plataforma das armas, parte de uma das paredes do quartel (Museu João Ramalho), dois parapeitos de janelas e um batente de porta.
O IPHAN afirma que o terrapleno (isto é, o Forte São João), foi reconstruído no século XVIII, não sendo ele estrutura original do século XVI. Nosso entendimento é que o Forte foi apenas ampliado, de 100 m² para 250m², sem que isso importasse em sua total reconstrução.