A “Pensão Bertioga” - 1922
Logo após o falecimento de sua esposa e com filhos menores de idade, João Basílio dos Santos vende a Chácara dos Jambeiros para Germano Besser.
Por escritura pública lavrada no 3º Tabelião de Santos no dia 5 de dezembro de 1918 Germano Besser adquiriu de João Bazilio dos Santos a área onde estava a Chácara dos Jambeiros, com a história alameda das palmeiras imperiais. Essa transação foi criticada pela imprensa santista da época, porque desconfiavam que o casal de alemães pretendia tomar para si as instalações abandonas do Forte São João.
Germano Besser, e sua esposa Bertha, constroem uma vivenda, destinada a serviços de pensão e alimentação aos visitantes. Era chamada de “Pensão Bertioga”. Tinha finalidade turística e contava com oito quartos, sala, varanda, ampla cozinha, que ficou conhecida pelas peixadas e pelos pães de centeio, feitos pela própria Dona Bertha.
Jornal A Tribunal de Santos, 27 de junho de 1922, noticiando a iminente inauguração da pensão de Germano Besser, citada como Pensão “Paratioca” (Bertioga).

Anúncio no jornal “O Criador Paulista”, publicado em 1928: Queres descansar e restabelecer-se? Vá à Bertioga – Santos, Pensão Bertioga de Germano Besser, optimo tratamento, preços módicos.
Há quem mencione que a “Pensão Bertioga” foi o primeiro estabelecimento de hospedagem da Vila, mas é preciso ressaltar que antes já existiu o “Hotel Bertioga”, entre os anos de 1920 e 1922.
Instalada estrategicamente ao lado do Forte São João, servia para atender a elite paulistana e santista que frequentava Bertioga através de excursões e piqueniques para conhecer as ruínas das fortificações e das capelas, sempre atraindo muito interesse do público, pelo mistério de um passado de esplendor, de conflitos entre portugueses, colonos e indígenas.
Alguns ficavam hospedados, mas o que movimentava mesmo a pensão era o restaurante, pois este servia refeições aos turistas “de um dia”, endinheirados, bem-vestidos e com olhares atentos e curiosos para os poucos moradores da Vila.
O historiador Afonso d’Escragnolle Taunay (filho do Visconde de Taunay), em artigo publicado no ano de 1935, no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, disse que próximo ao Forte São João existia um “hotel” (pensão), do Sr. Germano Besser. De frente para a pensão, um “panorama marinho da mais majestosa amplidão”. De onde era possível olhar para o norte e ver a praia do Indaiá, “cujo nome se prende a memória do poeta ilustre”
O jornalista Joel de Aquino esteve em Bertioga em 1937, e publicou um artigo para a “Revista da Semana”, mencionando que existiam nesta época dois locais de hospedagem: a pensão de um alemão (Pensão Bertioga) e outra de um sírio (a “Pensão Paulista” referindo-se ao libânes Elias Nehme).
Elizabete Bittencourt Abdalla contou que seu pai, Waldemar, falava dessa “vivenda”, que existiu na época da adolescência e juventude dele. Waldemar dizia que era “muito bonita e frequentada por gente elegante que vinha de fora”.
Germano Besser somente obteve o “aforamento” do terreno em 1937, quando a União deferiu seu pedido.
Porém, o casal Besser foi obrigado a abandonar o negócio. A Segunda Guerra Mundial ocorreu de 1939 até 1945 e envolveu quase todas as nações, que se reuniram em duas alianças opostas, os “Aliados”, do qual fazia parte o Brasil e o “Eixo”, formado por Alemanha, Itália e Japão. Com a declaração do Estado de Guerra em todo o território nacional em 31 de agosto de 1942, os imigrantes de países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) foram obrigados a se mudar para cidades do interior, pois a permanência deles no litoral brasileiro foi proibida, como medida de proteção da costa. Os imigrantes dos países do Eixo eram considerados como inimigos da pátria e passaram a sofrer inúmeras restrições impostas por decretos ou portarias no Governo de Getúlio Vargas, ficando até mesmo proibidos de falar em público seus idiomas.
Desse modo, o casal Bertha e Germano Besser foi embora para São Paulo/SP, em 1942, arrendando sua propriedade para Armando Lichti, que ali instalou a Granja Zilá, funcionando até 1949. Segundo Fernando Martins Lichti, em Poliantéia de Bertioga, a “mansão” do casal Besser era uma “casa magnífica”.
Os herdeiros do casal Bertha e Germano Besser retomaram o negócio, sob o mesmo nome de “Pensão Bertioga”, no ano de 1949, após terem tentado vender sem êxito. O herdeiro Arthur Besser permaneceu na administração do negócio.
Nesta mesma casa, de 1975 até 1993 funcionou o restaurante “Zezé e Duarte”, a título de locação. Depois, o imóvel foi demolido na década de 2000 e desapropriado pela Prefeitura de Bertioga dos herdeiros da família Besser para instalação do Parque dos “Tupiniquins”.
É discutível, mas pode ser que neste mesmo local ficasse o cemitério de soldados, próximo a Capela de São Thiago, que ficava ao lado do Forte (séculos XVI e XVII). É interpretação publicada pela Prefeitura de Bertioga. O IPHAN, entretanto, discorda, em consulta oficial que fizemos a respeito.





