A energia elétrica - 1965

Embora Bertioga possuísse em seu território a Usina Hidrelétrica de Itatinga, inaugurada em 1910, foi somente na década de 1960 que Bertioga passou a contar com energia elétrica. Antes disso, as casas eram iluminadas com lampião. Algumas propriedades possuíam motor para gerar energia. Porém, nunca houve iluminação das ruas da Vila de Bertioga.

O Subprefeito Coriolano Mazzoni foi um dos grandes articuladores para a conquista da chegada da energia elétrica em Bertioga. Houve um grande empenho junto ao Governo do Estado e Prefeitura de Santos. Muitos Vereadores de Santos questionavam a demora na iluminação de Bertioga. Estudos foram realizados e alternativas apresentadas. Era preciso que fosse instalada uma subestação de energia.

A energia elétrica, na época, foi fornecida pela Usina Hidrelétrica de Itatinga. Em novembro de 1965 os trabalhos de ligação do sistema de eletricidade estavam concluídos. A empresa Bandeirante de Eletricidade S. A. (BELSA) foi a responsável pelos serviços.

Mas antes mesmo da energia elétrica chegar em Bertioga, a Prefeitura de Santos deu início em 1961 às obras de instalação dos postes e da rede de fiação elétrica. Esse serviço foi concluído em 1962, gerando críticas da população, que ainda precisou esperar mais três anos até que a energia efetivamente chegasse.

Em novembro de 1965 foi formada uma comissão para organizar os festejos comemorativos para a inauguração da rede de energia elétrica e iluminação pública. A comissão foi formada em apoio a Prefeitura de Santos, o seu presidente era Alberto Alves (Subprefeito), Faustino Gomes (Secretário), Licurgo Mazzoni (Tesoureiro). Os membros da comissão foram recebidos pelo Prefeito de Santos. Os membros eram o Dr. Durval Bruzza, Antônio Dib, Florinda Scano, Humberto Silva Piques, Afonso Paulino, Antônio Simões, Antônio Pepe, João Silva, Epiphânio Batista, Jaime Pina Nascimento, Domingos Oliveira, Coriolano Mazzoni, João Sabino Abdalla, Mario de Jesus Placido, Manoel Gajo e José Batista, além de Maria Felicidade Guerreiro, que organizou quase tudo.

Encontro da comissão de moradores de Bertioga com o Prefeito de Santos, tratando das últimas providências para a cerimônia de inauguração e suas festividades. Sentada, de branco, está Felicidade, ouvindo o Prefeito de Santos falar. Felicidade foi uma das mulheres mais atuantes nas atividades sociais da Igreja Católica São João Batista e do Lions Club de Bertioga, organizada, dedicada e competente em tudo que fez. Foto de novembro de 1965 no Paço Municipal de Santos.

A inauguração da energia elétrica em Bertioga ocorreu, oficialmente, no dia 8 de dezembro de 1965. Foram vários dias de preparativos para essa inauguração. Ela aconteceu na Praça Armando Lichti, em um dia chuvoso, com a presença de moradores e estudantes. Antes do evento começar, a população já olhava curiosa os testes com lâmpadas de como seria a inauguração à noite.

Foi um dia inteiro de eventos. O primeiro a chegar foi Silvio Fernandes Lopes, Prefeito de Santos, sendo recepcionado por Alberto Alves, que lhe entregou a chave da cidade. Na sequência, a banda da Força Pública começou a tocar e as crianças saudaram as autoridades que chegavam. Isso foi por volta das 10:30 da manhã. E, logo depois, chegou o Governador Adhemar de Barros, cercado por diversos secretários e militares. A bandeira do Brasil foi hasteada pelo Governador, e a bandeira do Estado de São Paulo, pelo Prefeito de Santos. O General Amaury Kruel descerrou a placa comemorativa, que se achava coberta por uma bandeira de São Paulo. Era uma placa de bronze, histórica, com os seguintes dizeres, assim registrados pelo Jornal “A Tribuna de Santos”: “Governo do Estado de São Paulo – Plano de Desenvolvimento Integrado – Governo Ademar de Barros  – Energia Elétrica ‘da’ Bertioga – 1965”.

Na sequência, houve a cerimônia de quebra dos velhos lampiões.

Em entrevista ao Jornal Costa Norte, Romualdo Santana Junior, contou que a inauguração da energia elétrica foi feita pelo Governador Ademar de Barros, que ao chegar a cidade pela Estrada Guarujá-Bertioga, “pegou um lampião das mãos de Miguel Bichir e outro lampião das mãos de João Sabino, e durante o evento de inauguração, bateu um lampião no outro e a luz acendeu”. Na cerimônia os lampiões foram quebrados, representando o início de uma nova fase no desenvolvimento da Vila. Os moradores mais antigos de Bertioga também levaram seus melhores lampiões, que igualmente foram quebrados.

Dona Lola, uma das moradoras mais antigas, que vivia em Bertioga desde 1925, estava eufórica com a iluminação. Ela trouxe os lampiões que iluminavam a sua casa na terra natal, a Espanha, e um deles, segundo Dona Lola, tinha mais de 300 anos.

Momento em que os lampiões de João Sabino Abdalla e Miguel Seiad Bichir (não aparecem na foto) são jogados ao chão. No centro, de terno preto, o então governador do Estado de São Paulo Ademar de Barros. Do lado esquerdo da foto: o Prefeito de Santos Silvio Fernandes Lopes (terno preto) e o Subprefeito de Bertioga Alberto Alves (terno cinza).

O Governador Adhemar de Barros, ao perceber que o Capitão dos Portos do Estado de São Paulo, Comandante Roberto Coutinho Coimbra, estava sem lampião, exclamou, em tom de brincadeira: “dá uma lanterna aqui para o comandante, porque tiraram a dele”.

No centro, de terno preto, o então governador do Estado de São Paulo Ademar de Barros. Momento em que o sistema de energia elétrica é inaugurado.
Ademar de Barros na cerimônia de inauguração realizada na Praça Armando Lichti.

A grande comitiva de autoridades foi em direção ao Forte São João para conhecer, seguindo depois para a Colônia de Férias do SESC, que ofereceu um almoço. Era um churrasco, com carnes, linguiça, farofa e salada. Para o Governador Adhemar de Barros foi servido, especialmente, um peixe, para “matar a vontade dele”, pois já no seu desembarque da balsa ele disse que veio para comer um peixe. Durante o almoço, teve discurso do Prefeito de Santos, Silvio Fernandes Lopes, que foi muito aplaudido. Então, o Governador, aliado político do Prefeito, disse em voz alta, em momento de descontração e para o riso de todos: “como tem puxa (saco) por aqui”.

À tarde, teve desfile de carnaval e baile popular em um palanque montado na Praça Armando Lichti.

Mas o ponto alto foi quando chegou à noite. Às 20:00 horas, a chave ligando a energia elétrica foi acionada pelo Prefeito de Santos, o engenheiro Silvio Fernandes Lopes.

Depois, na sede do Bertioga Futebol Clube, foi então coroada a Rainha da Luz (Miss Luzes de Bertioga) Dina Rodrigues Martins, com 18 anos, escolhida pela Professora Edilene Sudan pela sua simpatia e beleza inquestionável.

Subprefeito Alberto Alves. Professora Edilene Sudan. No centro, Dina Rodrigues Martins, aos 18 anos, a Rainha da Luz.

É um dos momentos mais icônicos da história de Bertioga, abrindo-se um novo capítulo no desenvolvimento.

Tornava-se possível a instalação de indústrias, estabelecimentos comerciais e grandes empreendimentos imobiliários. Foi um fator determinante para a expansão da Vila de Bertioga. A população passou a ter condições adequadas para viver com dignidade, possuindo equipamentos domésticos mínimos de conforto e higiene, como geladeira, chuveiro e luz elétrica.