Expedição Langsdorff em Bertioga - 1826
A expedição fazia parte do esforço do governo russo em restabelecer as relações comerciais com o Brasil, que estavam prejudicadas pelo embargo comercial aos produtos da Rússia, decretado por Dom João VI em 1808.
O Brasil somente tinha relações comerciais com as nações amigas. A Rússia havia se aliado com a França de Napoleão Bonaparte impondo um bloqueio continental aos produtos da Inglaterra, maior parceira comercial de Portugal, além de ter apoiado a invasão francesa em Portugal, o que provocou em 1808 a fuga da família Real para o Brasil. Mais tarde, a Rússia rompeu esse bloqueio continental, provocando a sua invasão pelos franceses em 1812.
Com a derrota de Napoleão Bonaparte e o retorno da família Real para Portugal, era momento de tentar restabelecer ligações político-comerciais com a ex-colônia portuguesa, o Brasil.
É nesse contexto que em 1826 Georg Heinrich von Langsdorff esteve em Bertioga com sua célebre expedição. Nascido no principado de Mainz, Alemanha, em 1774, pertencia a uma família ilustre, com origem no século XIII. Seu pai era vice-chanceler do grão-ducado de Baden. Formado em medicina pela Universidade de Göttingen, o jovem Langsdorff estabeleceu-se de 1797 a 1802 em Lisboa. Exercendo a medicina e trabalhando com entomologia e ictiologia, aprendeu ali o português com perfeição e mudou seu nome para Jorge Henrique de Langsdorff. A partir de 1803, como dominava também perfeitamente o idioma russo, começou a participar, sob o nome de Grigory Ivanovitch Langsdorff, de viagens e excursões científicas ao redor do mundo, organizadas pelo governo imperial da Rússia.
Em junho de 1821, quando estava em férias em São Petersburgo, ele apresentou a Karl Nesselrode, vice-chanceler do Império, o plano de uma grande expedição científica pelo interior do Brasil, que teria como objetivos “descobertas científicas, pesquisas geográficas, estatísticas, estudo dos produtos pouco conhecidos no comércio, material sobre todos os reinos da natureza que possa coletar e que possam concorrer para o enriquecimento das atuais coleções do Império”. Dois dias depois era recebido pelo Czar Alexandre I, que garantiu seu patrocínio pessoal à iniciativa, com plena liberdade de roteiro e prazo não definido.
A “Expedição Langsdorff” contou também com o apoio do jovem Imperador Dom Pedro I e de José Bonifácio, que forneceram, em nome do Império, créditos vultosos e vantagens alfandegárias.
A viagem se realizou em duas partes. A primeira, pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, de 8 de maio de 1824 a 27 de fevereiro de 1825. Nessa etapa, o pintor Johann Moritz Rugendas realizou inúmeras pinturas. Depois, por desentendimento com Langsdorff, foi demitido e seguiu caminho próprio em viagens pelo Brasil.
A segunda viagem foi pelas Províncias de São Paulo e Mato Grosso, de 26 de agosto de 1825 a 22 de novembro de 1826. Foi nesta segunda viagem que a “Expedição Langsdorff” esteve em Bertioga.
Os principais tripulantes dessa segunda viagem eram os pintores Aimé-Adrien Taunay e Hercules Florence, os zoólogos Ménétriès e Hasse, o astrônomo da Marinha Russa Nester Rubtsov, e o botânico Ludwig Riedel.
O início da segunda viagem foi no Rio de Janeiro em direção a Santos, pela costa brasileira, através do navio “Aurora”, uma pequena embarcação à vela. Depois, foram utilizadas mulas e canoas para acessar o interior do Brasil.
No dia 17 de abril de 1826, à noite, chegou em Bertioga. O capitão ancorou o navio próximo ao Forte São João. Ali, foram interrogados pelo Comandante do Forte sobre a procedência da expedição e o tempo de viagem. Ainda na mesma noite chegou um amigo do capitão do navio, chamado de José Lopes, que tinha uma fazenda há aproximadamente quatro quilômetros do Forte, às margens do Rio da Bertioga (Canal de Bertioga).
Na manhã do dia 18 de abril de 1826 partiram com o navio pelo Canal de Bertioga, onde puderam observar do lado de Guarujá a presença de plantações de mandioca, banana e cana-de-açúcar, e do lado de Bertioga uma vegetação palustre predominante, o manguezal.
Quando chegaram em frente à fazenda de José Lopes, este e sua família vieram até o navio, trazendo como refeição para o almoço o peixe da espécie “robalo”.
Depois, foram convidados a descer do navio e fazer uma visita na fazenda. Lá eram cultivados mandioca, cana-de-açúcar, banana e outras frutas. Jantaram na fazenda. Foi estendido no chão da casa o couro da pele de um animal, usado como uma espécie de toalha, sobre a qual foram colocados os alimentos: carne de porco frita, feijão com toucinho e ovos fritos. Foi oferecido como sobremesa o fruto “cambuci”. Sem conhecer, se esbaldaram nele, mas a noite todos precisaram urinar várias vezes, pois o cambuci é diurético.
Era um alojamento bom, limpo, tudo conforme os costumes europeus. Jogaram baralho e foram dormir por volta das 23:00 horas. No dia seguinte, pela manhã, tomaram café com José Lopes e seguiram para Santos.
Durante a expedição, os pintores fizeram diversos desenhos sobre a fauna e flora brasileira, registrando muitos animais comuns de serem avistados em Bertioga, como observamos a seguir.