A segunda fortaleza: a paliçada - 1547
João Ramalho nasceu em 1493, em Portugal, considerado por alguns historiadores como náufrago ou degredado, casou-se com Bartira, filha do poderoso Cacique Tibiriça, o que lhe fez ter poder e prestígio entre os Tupiniquins.
Por isso, também deve ter sido João Ramalho quem autorizou ou determinou a construção de uma nova estrutura na Barra de Bertioga capaz de impedir a invasão de inimigos Tamoios à Vila de São Vicente. Uma estrutura que fosse maior e mais resistente que a anterior. Diego de Braga deve ter sido encarregado por João Ramalho dessa missão.
Diego de Braga, para alguns autores, seria um degredado ou náufrago, vivendo com sua família nas imediações de São Vicente e ser de confiança da João Ramalho.
Hans Staden conheceu Diego de Braga em 1552 e escreveu que ele era um português, casado com uma indígena. Eles tiveram cinco filhos, todos jovens, mas já adultos nessa época: João de Braga, Diogo de Braga, Domingos de Braga, Francisco de Braga e André de Braga. Segundo o historiador Francisco Martins dos Santos, eles são os primeiros brasileiros que se tem notícia, em razão da miscigenação de branco com indígena, resultando nos chamados “brasis”, isto é, os nascidos no Brasil, tal como os europeus denominavam. E é a primeira família de moradores de Bertioga.
Em 1547, Diego de Braga, os seus cinco filhos, além de Tupiniquins e descendentes, constroem no mesmo lugar do antigo posto de observação uma fortificação de madeira, maior, mais imponente e protegida, denominada de diversas formas pelos autores: “paliçada”, “estacada”, “trincheira” ou “caiçara”. Pelo relato de Hans Staden, era um cercado reforçado de estacas de madeira, com algumas cabanas e uma casa forte, no centro. O ano de 1547 pode ser considerado como o início do povoamento de Bertioga. Estava fundada a Vila de Bertioga. A discussão que pode ser estabelecida é se essa casa forte era uma estrutura de pau-a-pique ou de alvenaria (cal e pedras). Ela resistiu ao ataque dos nativos, preservando a vida e a integridade daqueles que estavam em seu interior.
Gravura de uma aldeia fortificada, no livro “Duas Viagens ao Brasil”, de autoria de Hans Staden. É possível interpretar que a “paliçada” de Bertioga fosse muito semelhante a esse desenho.
Para Adler Homero Fonseca de Castro, em sua obra “Muralhas de Pedra, Canhões de Bronze e Homens de Ferro”, essa casa forte era feita de barro. E poderia ser totalmente de barro e madeira, inclusive sua cobertura, sem nada de palha, o que teria impedido que os nativos a incendiassem no ataque de 1547. Gravuras no livro de Hans Staden parecem confirmar isso, embora desenhadas por artistas europeus que nunca vieram ao Brasil, foram produzidas na época segundo os relatos do próprio Hans Staden.
Segundo consulta oficial ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, a placa com o ano de 1547, localizada encima da porta da antiga entrada principal, ao lado do Forte São João (Forte São Thiago), e de frente para o Canal de Bertioga, foi instalada ali entre as décadas de 1960 e 1970 pelo Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga, que considerava o ano de 1547 como data de possível construção “de um forte que pudesse oferecer maior resistência aos ataques inimigos, do qual, os Irmãos Braga, unindo-se a sobreviventes e a novos colonos, levantaram as fundações da fortificação no mesmo local da antiga paliçada”. Nesta versão, do Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga, o Forte São Thiago, de alvenaria (cal e pedra), com os mesmos traços da fortaleza atual, teria sido erguido em 1547.
O IPHAN, ainda em parecer oficial, questiona essa versão, alegando que em 1547 o que existia era apenas a “paliçada” construída por Diogo de Braga e os filhos.
Mas o historiador José da Costa e Silva Sobrinho confirma a interpretação do Instituto Histórico e Geográfico Guarujá-Bertioga, aduzindo que no “Arquivo da Câmara de São Vicente, livro de vereações de 18 de fevereiro 1557”, consta que na Barra de Bertioga, quando foi determinada a construção de uma nova fortificação, em 1551, isso foi feito em substituição a outra que já existia, possivelmente a de 1547. A conclusão é que somente pode ser substituído aquilo que já existe. Se já existia uma fortificação de alvenaria, foi ela substituída por outra de alvenaria.
Frei Gaspar da Madre de Deus, em “Memórias para a história da Capitania de São Vicente”, disse que “ordenaram com beneplácito de ambos os povos, que à custa deles se levantasse outra fortaleza de pedra e barro defronte da primeira”. Se a ordem foi para a execução de uma outra “fortaleza de pedra e barro”, isso pode ser interpretado como existindo uma anterior, também de “pedra e barro”. Talvez essa construção que Frei Gaspar disse feita de “pedra e barro” fosse a casa forte, que ficava ao centro da “paliçada”, construída em 1547.
A versão que a “paliçada” de 1547 não era constituída só de estacas de madeira, mas também de uma casa de barro, é amplamente acolhida pelos historiadores, mas era muito diferente do desenho e da estrutura do forte atual.
Francisco Martins dos Santos, analisando o livro de Hans Staden, considera que havia uma casa forte em 1547, mas não conclui que fosse uma casa de alvenaria (pedra e cal). Essa casa forte poderia ser de pau-a-pique (barro e madeira).
Independentemente de ser de “pedra e cal” ou ser de “barro e madeira”, é fato incontroverso que em 1547 existia uma fortificação na Barra de Bertioga.